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terça-feira, 16 de março de 2010

O pão (Centeio e trigo)

A produção de cereal, principalmente trigo e centeio, era uma das bases em que assentava a vida económica da povoação e era, devido ao terreno fértil, o principal fornecedor distrital desses produtos.
Na época 1950/1952 João Baptista Carrilho foi o segundo maior produtor, sendo-lhe atribuído o respectivo diploma pela Federação Nacional dos Produtores de Trigo em 15 de Março de 1953
Embora ainda hoje haja quem semeie milhares de alqueires de semente, há muito terreno ao abandono, por falta de interesse ou rentabilidade económica, sendo talvez este último aspecto a principal causa já que desde 1970 até 2005 o preço do pão ao consumidor subiu mais de 50 vezes (uma carcaça de 60 gramas custava $40, hoje ronda os 0,10 €) e no produtor o preço não acompanhou, nem de perto, tamanha subida.
Até meados do século passado, porque todo o trabalho era feito manualmente, a faina da ceifa e das malhas prolongava-se desde Junho a Agosto.
Antes, geralmente no mês de Maio, o trigo era mondado, (limpo das ervas daninhas) o que era feito por dezenas de raparigas em posição bastante incómoda e durante todo o dia, apesar disso, o som das cantigas que elas emitiam e que ecoava pelas redondezas, dava aos campos um sinal de vida e de alegria que já há muito se perdeu.
Por alturas da festa de Santo António, 13 de Junho, e porque os braços existentes na povoação eram insuficientes para realizar a ceifa em tempo oportuno, começavam a chegar centenas de ceifadores vindos de alguns concelhos da Beira Baixa a que se chamava “campo” e que eram contratados pelos proprietários para fazer esse trabalho.
Depois, o transporte em carros de vacas, até às Eiras, onde em molhos, o cereal era colocado em medas esperando para ser malhado à força do mangual, agilmente manejado pelo homem e depois separado da palha através de varias operações em que também as mulheres tinham participação activa.
Após esta complicada sequencia de acções, o grão era recolhido, geralmente para as lojas, em grandes arcas de madeira, para durante o ano servir para fazer o pão, depois de moído e transformado em farinha nos moinhos da terra, peneirado e amassado pelas mães de família e cozido nos fornos comunitários ou arrendados pelo forneiro que se encarregava de várias missões, desde o circular de casa em casa pela manhã cedo, ao toque das almas, dando ordens aquelas que iam cozer nesse dia, até repetir duas horas depois, para mandar tender e de seguida levar para o forno. Cada pão pesava em média dois arráteis (medida antiga com 459 gramas) e as famílias coziam quase sempre mais do que aquele que precisavam, pois era usual pedirem emprestado umas às outras e quando era a sua vez de cozer, retribuíam com pão do mesmo peso.
Ao forneiro era dada a poia que consistia no valor de 10% em relação ao número de pães cozidos
As primeiras malhadeiras apareceram por volta de 1930, mas não ceifavam, estavam fixas nas Eiras e grande parte do trabalho era feito à mão, a maquia só degranava e separava o grão da palha.
Depois bastante mais tarde apareceram as ceifeiras malhadeiras, que simplificariam e facilitariam o trabalho já que o grão era recolhido pela própria máquina até uma certa quantidade e só depois retirado e ensacado.

Os moinhos

Na Ribeira da Granja (ou Janadão) existiram em tempos não muito distantes sete moinhos onde era moído o grão que alimentava o povo; um era do Ti José Perloiro, outro de Maria Martins, dois dos Rendeiros, um do Ti José Moleiro, um do Ti José Santo e outro do Ti Joãozinho, este, que se encontrava completo ainda há poucos anos, foi vandalizado em 2004 e as pedras roubadas, havia ainda alguns no Rio Côa, entre eles, dois eram propriedade de Narciso Carrilho, que moíam o trigo com mais precisão, resultando uma farinha mais fina, daí que fossem os preferidos quando se queria a farinha destinada à confecção dos coscoreis por alturas da Páscoa e da festa de Nossa Senhora dos Prazeres.

Os Fornos comunitários
Havia três fornos, o de baixo: da Tia Maria Martins, o do Ti Necha e o de cima: de Narciso Carrilho.

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