etiquetas

quinta-feira, 18 de março de 2010

No 5º Aniversário da elevação do Soito a Vila

Estareis certamente a pensar: que tem este para nos dizer acerca do Soito, se nem sequer aqui nasceu?
A verdade é que embora pouco, sei mais da história do Soito, do que da minha própria terra.
Também sei, que numa terra como o Soito, que tem centenas de licenciados, dezenas de mestres e alguns doutores, não seria eu, que, do ponto de vista estatístico faço parte do número de ignorantes deste país, a pessoa mais indicada, para dizer algumas palavras acerca do passado desta terra, no entanto, e porque me foi sugerido pelo Sr. Presidente da Junta de Freguesia, não quis deixar de prestar o meu humilde contributo, esperando que ele sirva para esclarecer algumas imprecisões históricas.


O passado do Soito começou a interessar-me desde há cerca de dez anos: havia fragmentos da sua história, totalmente contraditórios com outros e que me custavam a aceitar, daí ter começado esta busca, quase por brincadeira.

Não sou historiador, sou amigo de saber, e é essa vontade de saber que me tem levado até aos arquivos e a outras fontes de informação, sabendo que a história nunca está completa, há sempre novos dados a acrescentar e erros a corrigir enquanto houver quem queira ir mais além, à busca dum passado que existe, embora nos pareça obscuro.
Sei, que em parte de muitos Soitenses, há um sentimento de menoridade histórica e territorial, que teria sido erradamente transmitido, por quem não aprofundou a investigação do passado desta terra.
As datas, os números e os factos que vos passo a transmitir, são credíveis, têm bases documentais que tenho em meu poder, e delas posso ceder cópias a quem estiver interessado.

Sabe-se que a região de Riba Côa, só passou para a soberania portuguesa em 1297 através do Tratado de Alcanizes, mas também é certo que no domínio espiritual continuou a ser dependente do Bispado de Cidade Rodrigo até 1403, altura em que o Bispo de Lamego, D. João de Vicente, conseguiu a desanexação, confirmada por bula do Papa Bonifácio IX e datada de 5 de Julho.
Em 1321, vão passados quase 700 anos, já o Soito constava na lista das Igrejas do termo do Sabugal e em 3 de Junho de 1359, os juízes exactores, reunidos na cidade da Guarda começaram a impor taxas às Igrejas que estavam em território português e pertencentes ao dito bispado, sendo então a Igreja de Santa Maria do Soito taxada em 10 libras.
A propósito, quero esclarecer, que a primitiva paróquia de Santa Maria do Souto só mais tarde passaria a ter por padroeira Nossa Senhora da Conceição, já que o culto à Imaculada começou a consolidar-se no século XVII, especialmente depois de D. João IV a ter proclamado padroeira “dos nossos reinos e senhorios” no dizer dele, em 25 de Março de 1646 o que seria confirmado pelo Papa Clemente X em 8 de Maio de 1671.
Por essa época, muitas outras paróquias que se intitulavam de Santa Maria, tomaram por padroeira Nossa Senhora da Conceição.

Em 1511, o Sabugal tinha três paróquias; São João que tinha a Nave e outras como anexas, São Miguel à qual estava unida a do Soito, apesar de ser “Câmara do Bispo tendo como Abade Gonçalo Martins”, e ainda Santa Maria.
Dezasseis anos mais tarde, em 1527, e segundo o Cadastro da População do Reino, o então concelho do Sabugal tinha apenas 1027 moradores sendo o Soito o principal lugar com 160, Quadrazais 134, a Nave 98, Vale de Espinho 58, os Foios 7 e havia outros povos ou quintas que não interessa agora referir.

De salientar que segundo este Cadastro e na região, apenas o Sabugal com 213 moradores, dentro dos muros e no arrabalde, ou Almeida com 264 ultrapassavam o numero dos moradores do Soito.

Segundo uma estimativa da população portuguesa em 1640, da autoria do professor Joaquim Veríssimo Serrão publicada em 1975 e baseada nas memórias da Academia das Ciências, o Soito consta num mapa ao lado de Alfaiates, Castelo Bom, Castelo Melhor, Vilar Maior, e Numão para só referir as terras mais próximas, cada uma com um número de vizinhos entre os 100 e os 200 o que significa entre 400 a 800 moradores.

Poucos anos depois, era governador de Alfaiates o poeta e guerreiro Brás Garcia de Mascarenhas, e o Soito nessa época também esteve envolvido nas disputas fronteiriças; foi por essa altura que reuniram, aqui no Soito, D. Sancho Manuel e D. Rodrigo de Castro com as suas tropas e daqui partiram para Alcântara com 400 cavalos e 250 soldados, não sendo de excluir a hipótese de alguns deles serem Soitenses, fortes e destemidos como sempre foram.

As hostilidades entre Portugueses e Espanhóis continuaram, no reinado de D. Pedro II, foi nesse tempo que sobressaiu, devido às suas heróicas façanhas, um tal Tolda, capitão de cavalaria, que foi considerado o Nun’Álvares do castelo de Alfaiates, a ele se refere o Padre Hipólito em 1758 escrevendo; “ ainda se conserva nesta freguesia, a trombeta da sua Companhia com grande estimação” Pena é que tivesse desaparecido.
Também o reytor António Carvalho Baptista em memórias paroquiais de Alfaiates diz acerca do “Capitão Tolda”: temido raio de Marte que fez grandes feitos!

Escreveu ainda o Padre Hipólito, que paroquiou o Soito entre 1745 e 1786, em Memória Paroquial datada de 29 de Maio de 1758 a pedido do Marquês do Pombal e inserida no Dicionário Geográfico, que o Soito tinha 226 vizinhos, com setecentas e vinte pessoas maiores e menores, ainda segundo este pároco o Soito já tinha para além da Igreja mais oito capelas: Dentro da freguesia São Modesto.
Fora da freguesia; São Brás, Espírito Santo, Santa Bárbara, Santo António, São João, Nossa Senhora dos Prazeres, Santo Amaro e a capela da Misericórdia.
Respondendo à questão 25 o Padre responde; “acha-se nesta terra um forte muito antigo, mas no presente está todo demolido”
Em meu entender de leigo, penso que este forte, teria sido destruído entre 1640 e 1660, aquando das investidas castelhanas, que pilharam e incendiaram várias povoações, contudo a sua origem é uma incógnita e talvez continue a sê-lo, o certo é que Forte, continua a ser o nome do lugar onde ele terá existido há bastantes séculos atrás, talvez mesmo desde tempos medievais.
Em 1798 e segundo o Censo de Pina Manique o Soito tinha 243 fogos.
A crer na evolução populacional do Soito, segundo os dados até agora obtidos, deve estar errada a informação do Padre Carvalho, ou houve erro de impressão no Dicionário Corográfico onde Américo Costa atribui ao Soito em 1708 apenas 36 fogos, pois como é possível em meio século diminuir mais de 100 fogos para passado outro meio, ter um crescimento de 190?

Sei, que entre 1692 e 1700, 9 anos portanto, foram feitos no Soito cerca de 400 baptizados, o que vem reforçar ainda mais a tese do erro histórico atrás referido. Pois 400 baptizados em 9 anos, e tendo em conta que um casal tinha um filho, em média, de dois em dois anos, isso equivale a dizer que havia cerca de 100 casais em idade reprodutiva, mais os jovens, crianças e idosos.

Outro facto importante que me faz descrer desse tal conceito de lugarejo é a prova de que em 1695 o Soito já tinha a sua Misericórdia conforme registo de óbito de 14 de Fevereiro desse ano, feito pelo padre António Ramos de Azevedo e onde escreve “foi sepultado na Capela da Santa Misericórdia, por assim o deixar em testamento.”

Ainda a propósito da menoridade atribuída ao Soito, digo que se em 1758 já tinha oito capelas, uma Irmandade da Misericórdia, cuja capela tinha um rendimento de 20.000 reis, um hospital, administrado pelo Provedor de Castelo Branco, mas que era pertença da Misericórdia, como poderia ter sido um pequeno povoado, alguns anos antes?

Em 1822 o Soito contava 230 fogos, o Sabugal contava 219.
Em 1862 havia 335 fogos com 1.400 moradores
Em 1900 401 fogos e 1.508 moradores
Em 1930 526 fogos e 2.003 moradores

Segundo o VIII Recenseamento, em 1940 o Soito atingiu o mais alto patamar da sua história com 616 fogos e 2.439 habitantes, dos quais 438 viviam em Santo Amaro, 731 sabiam ler, havia 98 viúvas e 22 viúvos, 3 pessoas não tinham religião, 4 não praticavam alguma e já então havia um casal separado judicialmente.

O X Recenseamento de 1960 e publicado em 1963 conta no Soito apenas 2.376 moradores, perdendo portanto 63 pessoas em vinte anos, porém, como nesse espaço de tempo foram feitos 1.975 baptizados e houve apenas 1.001 óbitos, teremos que contabilizar uma perda de 1.037 pessoas, que certamente haviam emigrado.

Informa ainda este recenseamento, que em 1960 havia no Soito 139 pessoas sem religião, 102 viúvas e 38 viúvos.
A nível concelhio o Sabugal desceu de 41.909 em 1940 para 38.062 o que dá um saldo negativo de 3.847 habitantes.

Os dados recolhidos em 1981 através do XII Recenseamento contam no Soito 1.433 habitantes, em 1991 1.392 e em 2001 apenas 1.330.

Sabendo que o Soito tinha em 1862 1.400 moradores e que desde então até ao ano 2000 houve 8.995 baptismos e apenas 6.532 óbitos, teremos um saldo positivo de 2.463 pessoas, que juntando às 1.400 somaria 3.863 o que quer dizer que por cada Soitense residente há dois emigrados.

O Soito, dependente da Nave?
Há quem erradamente admita, que o Soito foi uma anexa da Nave, a verdade, é que o Cura do Soito, como aliás os de Vale de Espinho, Foios, Lageosa, Vila Boa, Ruvina, Ruivós e Vale das Éguas, prestavam contas anualmente ao Vigário da Nave, seu superior hierárquico, o qual assinava a abertura e o fecho dos livros de registos, onde constavam os baptismos e os óbitos.
O pároco da Nave seria como que o colector de impostos, o representante do Bispo, aquele que recolhia as taxas, ou as rendas, como queiramos chamar-lhe.

Os documentos referentes ao Soito não esclarecem qual o valor da renda, que lhe estava imposta, mas por exemplo Ruivós pagava 68 alqueires de centeio, outros tantos de trigo e seiscentos reis, Vila Boa pagava 40.000 reis, Foios pagava 120 alqueires de centeio e 6.000 reis em dinheiro, Vale de Espinho 50 alqueires de trigo, 50 de centeio e 3.000 reis.
Os livros de registo, existentes, quer no arquivo paroquial, quer no Arquivo Distrital da Guarda, foram assinados, para além do Padre da Nave, ainda pelos Padres de Rendo, Alfaiates, Aldeia da Ponte, Ruvina e por último, o actual Padre Souta do Sabugal, todos eles seriam possivelmente superiores ao do Soito o que não quer dizer que esta freguesia lhes tenha pertencido.

Alguém me disse, ainda não há muito, que os mortos do Soito teriam sido, em tempos, sepultados no cemitério da Nave. Posso dizer que desde pelo menos 1615 data de que há registos, isso não acontece, as sepulturas eram feitas na Igreja Matriz do Soito, na Capela da Misericórdia, na de Santa Barbara, na do Espírito Santo e na de Santo Amaro, embora nestas duas últimas fossem em número bastante inferior ao das outras.
Os cemitérios são relativamente recentes, foram criados por dois decretos de 1835, embora Pina Manique, meio século antes houvesse lutado pela sua construção.
O primeiro funeral feito no cemitério do Soito, data de 5 de Fevereiro de 1838. Na capela da Misericórdia já eram feitos desde pelo menos, 14 de Fevereiro de 1695, o que não quer dizer que os não houvera anteriores, pois há um vazio documental de alguns anos antecedentes que no impossibilitam de saber mais.

Nessa época e até à elevação da nossa terra a Vila, o Soito era a única aldeia do distrito, que nunca foi vila ou sede de concelho, a ter instituída uma Irmandade da Misericórdia, o que era já uma prova, da sua importância como povo.
Há um outro pequeno trecho de história, em Memórias sobre o concelho do Sabugal onde se diz acerca do Soito: “A população é rica, porque é trabalhadora e tem muito onde trabalhar, nos seus pequenos limites”. Ora o Soito com mais de 30 Quilómetros quadrados de superfície, é a nona maior freguesia do concelho atrás do Casteleiro, Sortelha, Quadrazais, Vale de Espinho, Bendada, Aldeia da Ponte, Sabugal e Aldeia de Santo António, esta tem apenas mais alguns hectares que o Soito.
Os limites do Soito, são maiores que os de Aldeia do Bispo e Lageosa juntos.

É ainda interessante saber que em princípios do século XVIII, o Santo que atraía mais romeiros ao Soito, principalmente “tolhidos e aleijados” segundo as palavras do Cura de então, era Santo Amaro a 15 de Janeiro, pois que todos acreditavam ser imagem muito milagrosa e onde, segundo informação do mesmo Padre, se encontraram mais de duzentas muletas de pau que os aleijados ali deixavam depois de se verem curados.
Outra festa que se realizou durante alguns séculos foi a de Santa Isabel no primeiro domingo de Julho.
A cargo da Irmandade da Misericórdia, esta festa teve o seu fim por volta de 1940, de salientar que na tarde desse mesmo dia e todos os anos se procedia à eleição dos mesários que haviam de dirigir a Misericórdia no período seguinte.

Há ainda outro ponto que importa esclarecer; algumas pessoas, mal intencionadas de certo, terão dito que os primeiros habitantes do Soito eram ciganos ou foragidos à justiça; Ora, a verdade histórica é esta; No livro Castelos da Raia da Beira, consta um mapa de Baquero Moreno onde Alfaiates, Vilar Maior, Sabugal, Penamacor e a própria Guarda eram Coutos de homiziados o que quer dizer; que, ou aqueles que andam fugidos à justiça, logo, nenhum povo da região se pode gloriar do seu passado fazendo criticas ao passado dos outros.

O Soito não tem casas senhoriais, brasões ou castelos, teve e tem a gente trabalhadora, que embora humilde, tem um valor que ninguém lhe pode arrebatar; é a força e a vontade de trabalhar, ao contrário de outros que feitos parasitas, aqui vinham recolher, talvez pela força, a maioria dos produtos colhidos a cada ano, como era o caso daquele que foi donatário do Soito o Conde de Óbidos, mas também o Conde de Resende e os Alcaides do Sabugal que tinham aqui extensas propriedades.
Faz hoje cinco anos que o Soito foi promovido a vila, não me vou pronunciar sobre as questões que envolveram todo o processo, apenas quero afirmar, que esse facto, só trará vantagens, na medida, em que nós formos capazes de elaborar, projectar e candidatar aos fundos governamentais, as obras que entendamos prioritárias.
Também, só forçado a dizer, que a Assembleia da Republica ao promover o Soito, assumiu a responsabilidade que advém de qualquer promoção, o que tem sido esquecido, embora saibamos que ninguém virá de bandeja, oferecer o que quer que seja, só pelo facto de sermos vila, temos que fazer valer os nossos direitos, através de iniciativas e dialogo, com as entidades que têm o poder de decisão, sem sermos subservientes é certo, mas nunca de forma arrogante.
Para além da Junta de Freguesia, temos várias Associações de Desenvolvimento que certamente têm por meta o bem da nossa terra, mas a descoordenação, existente entre elas e o andar de costas voltadas só prejudica o Soito no seu todo.
A simpatia partidária de cada um, nunca se deve sobrepor ao bem comum de um povo, pois só colaborando uns com os outros em unidade, poderemos ter a força reivindicativa que nos permita alcançar os objectivos a que pensamos ter direito.

E mais não digo por hoje. Viva o Soito
Maio de 2004

Sem comentários:

Enviar um comentário