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domingo, 7 de março de 2010

A Lenda de João "Namoros"

A Lenda de João Namoros

Em meados do século XIX, nos tempos em que não existiam os modernos meios de transporte, não havia estradas ou luz eléctrica e os rapazes dormiam nas lojas, em tarimbas junto aos animais que lhes aqueciam o ambiente nas longas e frias noites de Inverno, vivia no Soito um casal que tinha um filho chamado João, em idade casadoira e que às escondidas namorava uma jovem rapariga de Vila Boa, distante cerca de cinco Quilómetros, por quem estava apaixonado e que ia ver pela calada da noite sem o consentimento dos pais.
A casa onde vivia o nosso personagem, tinha um alçapão, por onde se comunicava interiormente entre o andar de cima e a loja e, pelo qual observavam o que nesta se passava, por isso e para que os pais vissem que não tinha saído, o João decidiu colocar na cama e em seu lugar, um molho de palha e tapá-la com as mantas numa tentativa de enganar os pais, para que não desconfiassem da sua ausência, e lá partiu para a terra da sua amada.
A noite cai, e os pais sem desconfiarem de nada, deitam-se e adormecem, porém, daí a pouco, a mãe acorda aflita porque tinha visto em sonho o filho a ser atacado por uma alcateia de lobos, então acorda o marido, conta-lhe o sonho, mas ele tranquiliza-a dizendo que isso não passa mesmo de um sonho e voltam ambos a adormecer.
Passados alguns minutos, mal tinham adormecido, volta de novo o mesmo sonho e ela repete a queixa ao marido que para a sossegar acende a candeia, abre o alçapão, e vê pelo vulto que o filho lá estava deitado como as restantes noites, então a mulher sossegou e adormeceu de novo.
Pela terceira vez o sonho voltou; então a mãe apavorada grita ao marido: os lobos estão a comer o nosso filho, aí, o pai já desconfiado, decide baixar à loja e ver o que se passa; destapa as mantas, e vê então o feixe de palha no lugar do filho adivinhando logo o que se terá passado.
Sem perder mais tempo, sela o cavalo e a toda a brida, monta pondo-se a caminho em busca do filho, ao chegar ao sítio da Capela a cerca de 500 metros do fatídico local, ouve os gritos misturados com os uivos dos lobos e para dar força ao filho exclama; tem-te filho que aqui vou eu, mas os lobos ao ouvirem os gritos redobraram o ataque movidos pelo instinto assassino e devoraram a sua presa.
Quando o pai chegou ao local apenas restavam as botas do filho com os pés dentro.
O local onde este episódio terá acontecido, é no cruzamento da estrada com o antigo caminho de Vila Boa, hoje conhecido como “ Senhora de Fátima” devido ao nicho ali construído.
Hoje, ainda há quem chame ao local “Castanheiros de João Namoros” e era assim que deveria continuar.
Ali está também um Cruzeiro a atestar o trágico acontecimento e a perpetuá-lo na memória dos presentes e dos vindouros.

(Talvez hoje, que são outros tempos, se julgue este acontecimento uma lenda, mas a verdade é que os lobos foram de facto uma ameaça ás populações, tendo algumas Câmaras da região, nomeadamente a de Vilar Maior, que em 24 de Fevereiro de 1839, determinou o que transcrevo: “que seja repartida pelos povos do concelho uma porção de nós vomita, (estricnina) para ser posta em pontos que se conheçam mais frequentes estes animais, sendo obrigado cada povo a comprar uma rêz, a repartir em postas e a introduzir-lhe a nós vomita…)
10 de Março de 2005

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