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sábado, 27 de fevereiro de 2010

Capela de Santo Amaro

Santo Amaro
Foi um dos Santos mais venerados na região e também no Soito, a capela é de construção anterior a 1758 pois já nesta data era grande a devoção a este Santo ao ponto de virem, em grande número, romeiros de outras terras e de na ”capela se encontrarem mais de 200 muletas de pau trazidas pelas pessoas curadas que aqui vinham agradecer ao Santo por ser muito milagroso”.
À semelhança do que acontecia em outras capelas, também esta acolheu os restos mortais de alguns Soitenses, basta dizer que desde o dia 19 de Agosto de 1831 até 7 de Julho de 1832 foram ali a enterrar 33 corpos, dos quais vinte tinham dois ou menos anos de idade e apenas cinco tinham mais de 40 anos.
Em Dezembro de 1831 foram ali feitos cinco funerais, em Março de 1832 foram seis e em Maio quatro.
O altar foi dourado em princípios de 1966 e custou 3.530$00.
Cioso do seu Santo, o povo do Bairro a quem o Santo deu nome, têm por ele uma veneração especial e todos os anos festejam à sua maneira o dia do aniversário.

Neste mapa pode ler-se quantas as pessoas ali enterradas:


Capela de Santo António


Capela de Santo António
Esta capela é a primeira do povo para quem vem de poente e consta que as argolas há poucos anos fixadas nas suas paredes serviam para o Bispo atar a sua cavalgadura quando vinha a esta povoação nos tempos em que o cavalo ou a mula eram os únicos meios de transporte.
Embora a inscrição aposta na torça da porta principal date de 1818, a primitiva capela é com toda a certeza, do século XVII ou anterior, pois em 1758 já existiam no Soito todas as actuais capelas à excepção da capelinha de Santa Inês que foi mandada construir por um particular, proprietário dos terrenos adjacentes, o Dr. António Manuel Garcia da Fonseca.
Ainda quanto à capela de Santo António e devido à subida do nível dos terrenos adjacentes que obrigavam a água a entrar no pavimento que ficara mais baixo, sofreu obras de reparação em 1997/1998 e que constaram da subida do pavimento e da cobertura em cerca de 50 cm. O altar existente, deteriorado pela idade e pela humidade estava irremediavelmente perdido e só foi reposto um novo em 2004, inaugurado em 14 de Maio, graças ao empenho de um grupo de senhoras da povoação que promoveu a sua construção.

Património (Capela da Misericórdia)




Capela da Misericórdia

Esta capela, a que já o Padre Hipólito se referia em 1758, estava localizada no sítio da Carreira e todo o espaço envolvente fazia parte da Eiras públicas.
A sua exacta localização era uns metros além da actual entrada do Cemitério e ainda hoje existe um pilar em pedra de granito como seu resíduo.
Com a construção do Cemitério, em 1836/37, ficou envolvida por este.
Foi transferida para a actual localização em 1934.
Foi reconstruída em 1992 pela Irmandade da Santa Casa da Misericórdia.
Teve durante tempos incontáveis um papel relevante na vida do povo do Soito, já que para além de ali se realizarem muitos enterros antes da existência do Cemitério, basta recordar que em apenas seis anos (entre 1825 e 1830) foram ali sepultados mais de 160 corpos, era nela também que se reuniam os irmãos da Irmandade no primeiro Domingo de Julho, de tarde, depois da festa de Santa Isabel, para elegerem a nova Mesa que havia de servir no ano seguinte.
Foi palco de vários casamentos entre eles o de José Alves, viúvo, de Alfaiates, com Luísa Jorge, tendo sido testemunha o Capitão-mór da vila de Alfaiates Narciso Fernandes Botelho em 6 de Julho de 1814.
Era também nesta capela que todos os meses se reunia a Mesa da Irmandade conforme consta nos Compromissos de 1858, 1868 e 1914.

Património (O Cemitério)

Cemitério

O Cemitério do Soito é de construção imediatamente anterior a 1838, pois que data de 5 de Fevereiro desse ano o registo do primeiro funeral ali realizado.
Embora um Decreto de 28 de Setembro de 1844 proibisse os enterros nas igrejas e o Soito já tivesse o seu cemitério, a verdade é que alguns corpos continuaram a ser sepultados na igreja e capelas até finais de 1858.
É de presumir que aquando da sua construção não tivesse sido levado em conta o nível populacional do Soito e que por insuficiência de espaço tivesse que ser acrescentado passados pouco mais de 30 anos segundo o que nos dá conta o Provedor Reverendo Bernardo Garcia de Carvalho nas contas de 1869 e em cujas obras a Misericórdia despendeu 11.200 reis
Aos 30 dias do mês de Junho do ano de 1901 é feito o auto de arrematação das obras de caiador no cemitério do Soito, arrematado por Manuel Nunes Pissarra, do Sabugal tendo como fiador Lucas Gonçalves Baltazar também do Sabugal: “rebocar paredes por dentro e por fora com cal preta e branca.” O valor da arrematação foi de 59.990 reis.
No dia 2 de Setembro de 1901 é pago a Manuel Dias Pissarra a quantia de metade da obra do cemitério do Soito e Quadrazais no valor de 54.980 reis.
Em 23 de Dezembro do mesmo ano, é paga ao mesmo arrematante, a segunda prestação, após a conclusão das obras, no valor de 29.980 reis.
Em 6 de Maio de 1933 é pago ao Eng. Carlos Amaral Neto o projecto para ampliação do Cemitério.
É atribuído à Junta um subsídio de 31.364$00 para alargamento do cemitério, (acta de 1 de Junho de 1934) sendo a adjudicação feita por 17.000$00 a Joaquim Manuel Nunes, desta freguesia no dia 12 de Agosto do mesmo ano, “sendo o serviço braçal por conta da Junta, bem como a cal, a água e o barro que sejam precisos.”
Foi nesta altura que a capela da Misericórdia teria sido transferida para a actual localização.
Em 1973 e porque os muros rebocados a cal se encontravam já em mau estado, foram de novo rebocados por dentro e por fora.
Em 1977 o cemitério foi de novo alargado, desde o alinhamento da actual capela até ao muro que o divide do Largo das Eiras.
Em 2003, os muros sofreram novas melhorias, tais como reparações e nova pintura.

Património (Os Cruzeiros)


Os Cruzeiros

Existem, dispersos pelo limite territorial desta freguesia, cerca de uma vintena de cruzeiros, alguns votivos, convidando à oração, outros a evocar factos ou acontecimentos na sua maioria trágicos, que sendo reais e históricos, apenas constam na tradição e na memória dos mais velhos que receberam essa informação dos seus ascendentes e que por sua vez a vêm transmitindo aos mais novos.
A história de um povo, ainda que não escrita, faz-se pela tradição oral, contudo há monumentos que podendo testemunhar essa história de um modo real, são destruídos ou votados ao desleixo, e no caso presente dos cruzeiros isso é verdade, pois eles, sendo pedaços da nossa história, trazem até nós a lembrança de algo que aconteceu no passado, porém uma vez destruídos, é também destruída e apagada a fonte viva desse mesmo passado.
Vários desses cruzeiros desapareceram, outros jazem por terra em pedaços como vulgares pedras mortas, esquecendo-nos que cada um deles, representa um acontecimento cuja memória é preciso preservar e transmitir à posteridade.
Um povo, se quer ver respeitados no futuro os seus feitos, terá que primeiro respeitar a memória, os vestígios ou atestados da vivência que os antepassados lhe legaram aquando da sua passagem, só respeitando se merece respeito, além disso esse mesmo povo será grande, tanto na medida em que é capaz de construir o seu futuro, como na capacidade que tiver de preservar e transmitir para os vindouros os valores, sejam morais ou materiais que os seus ancestrais lhe transmitiram.
Não pretendo fazer acusações, nem imputar responsabilidades a ninguém sobre a delapidação do nosso esparso património histórico, mas sim sensibilizar todos os cidadãos, para o dever, a que se não devem furtar, de zelar pelo passado que nos é legado e que afinal é de todos nós, Soitenses do presente mas também do futuro.
O grau de importância de um monumento pode variar conforme a época ou a mentalidade das gentes, e o que ontem não teve valor pode tê-lo amanhã, assim creio que todos devemos contribuir para a recuperação e manutenção dos cruzeiros, não com ajudas materiais, mas sim com o respeito que é devido à memória daqueles que os ergueram, sabendo mantê-los de pé.

O Cruzeiro do Calvário

Está colocado a um canto do Calvário do lado Noroeste e data de 1714, sendo de crer que já existia, ali ou em local próximo, aquando da construção do Calvário que pode datar de finais do século XVIII à semelhança do que acontece com os nichos da Via-Sacra
Este Cruzeiro, que teria sido transferido de lugar, quando se construiu o Calvário, ou ali colocado após a construção deste, tem na parte inferior, talhado no granito, o símbolo da morte: a caveira e dois ossos cruzados e na parte superior pode ler-se a inscrição INRI.





O Cruzeiro da Francesa,
Situado na Marsoba no antigo caminho de Aldeia da Dona, a escassos metros da estrada de Alfaiates, é datado de 1879: Consta que neste local foi morta uma cidadã Francesa que acompanhava as tropas do seu País aquando das invasões de 1808/1814, e que por ali se deslocavam.
Talvez por estas terem saqueado o Soito, os seus habitantes revoltados se tivessem vingado da afronta que sofreram perseguindo os franceses e então tivessem morto esta cidadã.

Cruzeiro de João Namoros
Colocado no cruzamento de Nossa Senhora de Fátima com o antigo caminho de Vila Boa, local conhecido pelos mais velhos como Castanheiros de João Namoros. Este cruzeiro é datado de 1919, mas sabemos pela tradição verbal que tem sido transmitida de pais a filhos, que este acontecimento teve lugar talvez há mais de século e meio, já que pessoas há muito falecidas diziam ter ouvido tal testemunho aos seus pais que por sua vez já o tinham recebido dos seus.
Conta a historia que um moço do Soito namorava em Vila Boa talvez contrariando a vontade dos pais, e que numa bela noite, como o teria feito já outras mais, colocou um molho de palha debaixo das mantas para que os pais não dessem por falta dele e aí vai ele caminho fora ver a sua amada.
Nessa trágica noite, a mãe acordou atormentada por um sonho no qual via o filho a ser devorado pelos lobos, aflita clama para que o marido vá ver se o filho está deitado, o homem lá foi e sob a luz ténue de alguma candeia, olhou para a loja através do alçapão, viu que estava na cama e regressou descansado ao seu leito.
Passado pouco tempo o sonho continuou e ela volta a chamar pelo marido que resolve ir certificar-se, mas ao afastar as mantas vê com surpresa que no lugar do filho estava apenas a palha enganadora.
Temeroso já do que estivesse a acontecer, cela à pressa o seu cavalo e monta a todo o galope em busca do filho, a alguma distancia ouve o alarido do ataque dos lobos e diz em voz forte; tem-te filho que aqui vou eu, mas quando chegou ao dito local já era tarde e só encontrou as botas do filho.
Os terrenos envolventes oficialmente conhecidos como Jastais não impediram que a este lugar fosse dado o nome de “Castanheiros de João d’Amores” em memória de tão trágico acontecimento, mas o povo vai esquecendo o facto e desde há alguns anos, com a colocação de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima quase em frente, este nome está a substituir aquele que inevitavelmente passará ao esquecimento.

Cruzeiro do Ti Dora

Este Cruzeiro do qual não conseguimos decifrar datas, está situado do lado esquerdo, na estrada que segue para Alfaiates, mas o seu local até à rectificação do traçado da estrada, era uns 50 a 60 metros para noroeste na antiga estrada, hoje terreno particular. Chamado de Cruzeiro do Ti Dora, lembra a memória de um Soitense, de apelido Dora, mas cujo nome era Manuel Lopes, que ali perdeu a vida no dia 3 de Maio de 1888 às cinco horas da tarde, assassinado, aquando das disputas com os vizinhos de Alfaiates pela posse dos terrenos fronteiriços às duas freguesias.
Este cruzeiro lembra as desordens acontecidas durante décadas e que opunha o Soito e Alfaiates a propósito da posse do Vilares e da Marsoba e que só viriam a terminar em fins do século XIX ou princípios do século XX após o derramamento do sangue de alguns homens, tanto do lado do Soito como do lado de Alfaiates.



Cruzeiro do Tio José Augusto

Situado no lado direito, no caminho que conduz do Robalbo à ponte da Granja, este Cruzeiro lembra a intolerância, a prepotência e o negativismo das forças da ordem de então e da lei que as regia, assim como o baixo conceito em que era tida a vida humana num país que havia sido o primeiro da Europa a abolir a pena de morte mas que na prática, a ela condenava sem julgamento.
Ali foi assassinado pelas forças da Guarda Republicana, José Augusto Ventura, em 27 de Agosto de 1954 quando transportava odres de azeite no seu cavalo, destinados ao comércio afim de por este meio poder subsistir, ele e a família.
Mandado parar pelos agentes, não obedeceu, certo de que lhe seria apreendido o produto que transportava mais o cavalo, podendo também ir preso caso fosse apanhado, em resultado do não acatamento da ordem de parar, foi alvejado com as balas mortíferas da autoridade e morto sem julgamento, tendo como único crime o facto de procurar sustento para si e para os seus.
Este acontecimento foi motivo de indignação dos populares, que à hora do funeral queriam passar pela porta do Posto da GNR mostrar o produto da desumanidade dos guardas, estes já precavidos e apoiados com reforços vindos de outros quartéis, estavam preparados e com metralhadoras apontadas ao cortejo e não hesitariam em disparar sobre pessoas pacíficas e desarmadas.
Disse alguém, que o autor de tal crime foi transferido e como “prémio” pelo mal que fizera, havia sido promovido.

Cruzeiro na Estrada do Ozendo

Ouvi dizer a pessoas que já deixaram o mundo dos vivos, que neste local foi morto um homem que passava na hora errada e que talvez tivesse sido morto por engano.
Neste local, a escassos cem metros do São Cristóvão, porque havia muitas flores, foram colocadas várias colmeias para as abelhas produzirem o precioso mel, acontece que quando os proprietários iam fazer a colheita o mel já havia sido misteriosamente retirado.
Porque o prejuízo era grande e não era tempo de desperdiçar, os donos fazem vigia no sentido de apanhar o ladrão de mel.
Uma noite passava este homem de nome José Augusto Pereira pelo local e com ou sem culpa, pagou com a vida por um crime que não merecia tão pesada e arbitrária pena.
Conforme se pode ler no Cruzeiro, este acto deu-se em 1 de Julho de 1908.

Cruzeiro do Ti Bola

Este Cruzeiro já desaparecido, existiu no alto da Cabeça da Vaca em sinal da morte de um habitante do Soito em Quadrazais.
Diz quem o ouviu aos mais idosos, que esse Soitense, foi a Quadrazais a casa de uma filha ali casada e que por razão desconhecida faleceu de repente.
Foi trazido pelo povo de Quadrazais em cortejo fúnebre até esse local, onde era esperado pelo povo do Soito que deles o recebeu e o trouxe para lhe prestar as últimas homenagens e fazer o funeral.






Cruzeiro do Pires

Ainda há poucos anos se erguia no sitio do Carriçal o Cruzeiro chamado do Pires e datado dos tempos das disputas dos Vilares, entre o Soito e Alfaiates, diz quem sabe que esse cidadão de Alfaiates munido de uma pistola se deslocava para este local dizendo que vinha matar os do Soito, acontece que esgotadas as balas sem que acertasse em alguém, se virou o feitiço contra o feiticeiro, e de seguida foi acometido por um homem apelidado de Espanhol que ali mesmo o deixou morto, não sem que antes jogasse à barra com ele como se fora uma pedra.

Outros Cruzeiros

No cruzamento da Estrada de Quadrazais com o Caminho do Ribeiro do Bispo existe um dos mais antigos; 1878, no entanto não me foi possível obter qualquer facto a ele alusivo.
Em frente ao depósito da água e datado de 1891, encontra-se um cruzeiro que foi derrubado e partido ainda há pouco tempo mas de novo levantado embora noutro local do lado oposto ao primitivo.
Em Santo Amaro junto à última casa a fazer gaveto entre duas ruas e com data também de 1891.
No sítio da Moita da Cruz, na junção dos dois caminhos que vão de Santo Amaro e do Robalbo está um cruzeiro que após vários anos caído e partido, se encontra agora a cumprir a missão para a qual ali foi colocado, a data é possivelmente de 1891, contudo o ultimo algarismo já se encontra-se ilegível.
Outro ao Carvalhal, e semi-enterrado ou partido, sem data, é mais um marco da fé dos nossos antepassados.
Mais um junto ao Chafariz dos Lameiros, mas também sem datas.
Outro na Pevide sem data e encimado por uma cruz de ferro.
No antigo caminho de Alfaiates que segue pelo Janadão, ergue-se um Cruzeiro conhecido como Cruzeiro do Luís Pedro e é diferente de todos os outros, tem na parte superior uma cruz cinzelada, também não se lhe encontram quaisquer inscrições.
Mais um no entroncamento de caminhos no Espadanal e datado de 1949.
No Caminho de Aldeia Velha, onde entronca o caminho do Carriçal, com data 1950.
No mesmo caminho e que cruza aproximadamente no sítio da Lapa, é de 1951.
Na barreira sobranceira á Ponte da Granja datado de 1892...? e onde se pode ler apesar da erosão de que vai sofrendo a pedra: OVÓS QUIDES RS PN AVP. Será um convite à oração?
Um pedaço assente, como se simples pedra de granito fosse, no Chafariz dos Lameiros e que certamente foi trazido do seu verdadeiro local, hoje talvez desconhecido.
Ainda outro pedaço, este com data de 1843, o mais antigo depois da cruz do calvário e que se encontra assente a fazer já parte da parede, à esquerda do começo da Rua de Trás de Soito junto à placa de STOP frente ao Lameiro do Soito.
Caído, partido e certamente fora do seu local, estava, ainda há pouco tempo, junto à casa do Sr. Padre José Miguel um cruzeiro à espera que lhe seja dado um lugar.
Numa casa demolida em 2001, junto à Padaria de baixo e que pertenceu, por herança, a Maria Martins, logo com mais de 150 anos, encontramos parte de uma cruz que fazia parede como se fosse uma vulgar pedra.

Património (O Calvário)




As origens deste templo perdem-se na bruma da história, embora a sua localização e arquitectura fossem noutros tempos diferentes das que são hoje.
O Cruzeiro assente junto ao pilar Noroeste data de 1714, mas ali próximo, já existia muito antes, uma rudimentar construção aonde era comemorado o sacrifício de Cristo e onde iam orar muitos dos nossos antepassados.
Durante mais de um século, a sua conservação e até a reconstrução, esteve a cargo da Santa Casa da Misericórdia que regista as despesas nas obras feitas.
Já em 1857 esta instituição gastou 5.180 reis para a sua “compostura”, porém em 1873 foi de algum modo reconstruído, pois que foram gastos 6.500 reis e no ano seguinte foram pagos 17.000 reis ao Cardepe pela conclusão do Calvário, também nesse ano foi vendida a madeira velha dali retirada por 800 reis.
Em 1881 volta a haver nova compostura no valor de 10.000 reis e em 1885: um véu preto para o Calvário; 9.500 reis.
Em 1903, para reparações 2.000 reis e em 1904 para zinco: 25.600 reis.
A última grande reparação (reconstrução) data de 1939, desde 14 de Março a 9 de Maio e inclui reconstrução do Calvário, Nichos e Cruzeiro de Santo António, nos quais são gastos 2.433$71 distribuídos por 97 jornais de pedreiro, 8 dias de carpinteiro, 8 de caiador, dois dias de serrador, dois dias à rapariga da água, 70$60 ao ferreiro José Martins Monteiro e 20$00 a António Fernandes pelo cata-vento.
Neste valor estão ainda incluídos 14$90 de comida e vinho para os lavradores do carreto na taberna do Aires, vinho e tabaco para os pedreiros e caiadores: 51$20, materiais 441$31 e tecto, pintura e zinco, mais 463$00.
No dia 15 de Fevereiro de 1941, Portugal sofre as consequências de um ciclone que causou avultados prejuízos, foi neste dia que o telhado do Calvário voou e o deixou a descoberto, seria reconstruído igualmente com cobertura em madeira e zinco que durou até aos anos setenta, altura em que foi colocada uma cobertura nova, sob responsabilidade da Junta de Freguesia.
Por volta de 1981 e para construir ao lado uma praça de touros, foi feita uma depressão até ao nível da estrada, cuja remoção de terras obstruiu e escondeu, à excepção do lado poente três degraus em granito que deviam ser de novo postos à vista.
Este projecto (da praça de toiros) só não foi avante devido à oposição de alguns populares que o julgaram uma afronta e uma profanação daquele espaço sagrado.
Em Maio de 2005, o tecto e vigas foram objecto de uma pintura, era altura de remover as terras que escondem os degraus e repô-los de novo ao sol, como estiveram desde sempre.
O cruzeiro foi mudado de lugar em 2007 para o centro do Calvário, onde se encontra.

Património (A Igreja matriz)

Igreja Matriz

Embora não se lhe possa atribuir data de construção, já existia no século XIV.
Certamente que não teria a actual configuração nem dimensão, nem tão pouco há a certeza de ser este o local onde a primitiva Igreja fora construída.
Sabemos que foi reconstruída em princípios do século XX (1904) e teria ao longo dos tempos sofrido outras obras de beneficiação.
A Torre foi construída em 1914, até então existia um campanário onde estaria colocado o sino.
Como muitas outras, ou quase todas as Igrejas e Capelas, serviu também de cemitério até meados do século XIX.
O primeiro piano a animar a Igreja foi adquirido em 1923 e era tocado por uma senhora mais conhecida como Isabel Latoeira.
O altar para a celebração da Santa Missa era aquele que está junto ao Sacrário e o pároco presidia aos actos de culto, de costas voltadas para o povo.
Ao fundo dos degraus de granito do altar uma grade em madeira torneada dividia o altar-mor do povo, tendo este para comungar de se ajoelhar ao longo do gradeamento enquanto o celebrante percorria para cá e para lá distribuindo enquanto houvesse fiéis para receber a Eucaristia.
O tecto da Igreja era forrado em madeira com pinturas feitas à mão, alguma delas da autoria do pintor Dr. João Garcia da Fonseca mas em 1963 e devido à deterioração da madeira e consequente perda das pinturas devido à humidade provocada por uma cobertura deficiente, o Sr. Padre João Domingos mandou forrar o tecto em placas de madeira tipo contraplacado ou platex, o que desvirtuou o traçado original e a igreja perdeu uma boa parte da sua história.
Na mesma altura em que o tecto foi restaurado, foram também dourados os altares cujos trabalhos terminaram em Outubro e que orçaram em cerca de 60.000$00.
Pouco depois foram colocados os actuais quadros que cobrem parte da capela-mor e que custaram 300$00 cada um excepto o de Cristo que custou 1.350$00, tendo o quadro central de Nossa Senhora da Conceição, situado na nave principal, custado a importância de 1.900$00.
Estavam colocados em Outubro desse mesmo ano de 1963.
Ainda hoje após a grande reparação que sofreu em 1988 se podem admirar essas pinturas que foram recolocadas depois de restauradas.
O actual altar em granito, custou 10.000$00 mais 8.000$00 para os arranjos acessórios, foi colocado em Agosto de 1967 mas só foi sagrado pelo Sr. Bispo da Guarda, D. Policarpo da Costa Vaz, no dia 7 de Dezembro pelas 18 horas a cuja cerimónia estiveram presentes para além do pároco Sr. Padre João Domingos, os Padres António Nobre, José Miguel Pereira, João Antunes Vaz e o Cónego Manuel Joaquim Carvalho Dias.
Os actuais 14 quadros da Via-Sacra foram adquiridos em Março de 1966 e custaram 25.230$00
Foi de novo restaurada (cobertura, reboco e pintura) em 1989/1990 no tempo do Padre João Domingos e os altares foram dourados em 1998, sendo pároco o actual Padre António Domingos sobrinho do anterior, ambos naturais de Sobral de São Miguel.

Património (O Forte)

O Forte

O Forte a que se refere o Padre Hipólito nas Memórias paroquiais de 1758 e que existiria desde há séculos atrás, terá sido destruído aquando das disputas fronteiriças, após a proclamação da independência em 1 de Dezembro de 1640, pois proclamar não significa restaurar e as pequenas invasões que se seguiram a esta data e durante 28 anos, principalmente nas zonas fronteiriças, deixaram um rasto de destruição e morte difíceis de avaliar.
Os Castelhanos, invadiam as nossas terras, roubavam, incendiavam e destruíam e os nossos retaliavam quando e como podiam.
A prova de que a consolidação da independência foi dramática para esta região é que Braz Garcia de Mascarenhas, Governador de Alfaiates por volta de 1641/1643, travou duras batalhas com os vizinhos, das quais saiu vencedor.
Não foi só no Soito que o rasto de destruição se fez sentir, também Aldeia da Ponte, Alfaiates, Malhada Sorda e outros povos, sofreram pesadas consequências e pagaram cara a vontade de liberdade e independência.
Em 1661 o Duque de Suna, ou Luna? invadiu esta região e “depois de queimar várias povoações só achou resistência no Souto onde perdeu 200 homens e se retirou para Albergaria”
Tinha o Soito nesta altura um bom grupo de tropas, já que documentação datada de 8 de Abril de 1664 dá-nos conta da existência de pelo menos o Capitão Diogo e dois tenentes; um chamado Fortes e outro Francisco Gonçalves.
Embora a paz fosse assinada em 1668, o sossego foi curto, pois o País, vinculado à aliança com Inglaterra, foi por esta obrigado a entrar de novo em guerra com Espanha.
Foi no seguimento da independência e devido a estes actos de violência e vandalismo, que uma grande parte do património histórico do Soito e de outros povos vizinhos se perdeu para sempre, seria então que o Forte do Soito foi destruído e jamais levantado, mas lá continua o nome do bairro a perpetuar esse passado histórico.
Por essa época e até meados do século XIX, era comum e com a maior impunidade, retirarem as pedras dos castelos, de pontes, fontes ou outros monumentos para construção das casas particulares.
Foi devido à delapidação deste património que a Câmara, no seu Código de Posturas datado de 17 de Maio de 1854 decreta no artigo 4º: Toda a pessoa de qualquer qualidade ou condição que seja que tirar pedras do castelo, muros, ponte e fonte desta villa e das pontes ou fontes das freguesias, além da sua reposição no antigo estado, pagará por cada pedra seis mil reis.
Esta coima era a mais elevada de todas as que eram impostas nos 82 artigos que compunham o referido Código.
Em 1762 somos de novo invadidos na chamada guerra dos sete anos, que como em outras ocasiões deixou marcas de destruição na região raiana, que obviamente era a mais massacrada, depois veio a guerra peninsular (1808 a 1814) que foi a causa por que as igrejas do Soito e de outras povoações ficassem “despidas de adornos”.

A Epidemia de 1858

A epidemia de 1858 e outras causas de morte


No ano de 1858, principalmente no mês de Maio, a morte foi implacável para as crianças do concelho, neste caso específico, do Soito.
Nesse ano, dos 156 óbitos verificados, mais de metade (82) tiveram lugar no mês atrás citado e o falecido mais velho tinha apenas 15 anos.
115 foram registados como “inocentes” (menos de 10 anos) 17 entre os 11 e os 20 anos,11 entre os 21 e  os 50 anos, 11 entre os 51 e os 79 e apenas 2 com 80 ou mais anos.
Aos 82 falecidos no mês de Maio, seguem-se 24 em Abril, 17 em Junho, 8 em Julho e 6 em Agosto.
Nos meses de Março, Outubro, Novembro e Dezembro registaram-se 4 óbitos em cada, Setembro e Fevereiro 2 em cada e apenas 1 em Janeiro.
Nos dias 12, 13 e 16 de Maio contam-se 7 funerais por dia e nos dias 20 e 30 foram registados seis em cada.
Nos dias 6 foram a enterrar dois irmãos de 1 e 3 anos, e no dia 20: um de 3 outro de 13. No dia 13 também foram sepultados dois irmãos mas não são referidas as idades.
Dos falecidos, cento e vinte e nove foram sepultados no cemitério da freguesia e vinte e oito na Capela de Santa Barbara, conforme se pode ler nos assentos lavrados pelo pároco de então, o Padre João António Monteiro.
A principal causa apontada, nos termos em que nos foram legados os seus registos, foi o “contágio das bexigas”, doença hoje chamada varicela.
Nos assentos dos registos de óbitos do século XIX, cada pároco mencionava também e dentro dos conhecimentos de então, a provável causa de morte, o que era feito em termos populares já que a medicina, à época, dificilmente chegava a esta região:
De entre as várias causas apontadas podemos ler; "febre catarral, febre gástrica, febre crónica, febre lenta, hidroperia, moléstia crónica, apoplexia, carbúnculo, cancaro, estepor, tifo, intrite, peste, morte repentina," etc.

Frequencia escolar e Professores

Frequência Escolar e Professores

Em 1890 o Professor António José Nunes tinha 34 alunos e a professora Josefa Dias da Anunciação; 46.
A instrução, a nível concelhio, encontrava-se numa fase incipiente mas evolutiva e a cada ano que passava aumentavam os alunos a exame, assim: em 1882 apenas completaram o curso elementar de instrução 9 alunos, em 1883; 3, em 1884; 2, em 1885; 14, em 1886; 19, em 1887; 28, em 1888; 26 e dois eram do Soito; em 1889; 50, dos quais dois eram do Soito; Carlos Carrilho Quinteiro Garcia, filho de Narciso Carrilho Quinteiro e João José da Fonseca Garcia filho de Manuel António da Fonseca, que foram a exame em 8 de Agosto, ambos com 10 anos de idade, e em 1890 houve 62 em todo o concelho, sendo do Soito dois irmãos; José Faustino e Joaquim Faustino, um de 13 outro de 11 anos, filhos de António Faustino.
No ano de 1866, aquando da Inspecção militar apenas 1 mancebo era estudante; Manuel filho de José Nunes do Gabriel e Maria Garcia e em 1875 também apenas um: António filho de Hilário Lourenço e de Luísa Carrilho.
No ano de 1892 apenas 25 alunos completaram o ensino primário entre eles 5 de Vale de Espinho, 3 de Vila do Touro, 1 do Soito, 1 de Quadrazais e 1 de Alfaiates.
Em 9 de Abril de 1893, a Câmara mandou pagar a Manuel Gomes Quicho a importância de 9.000 reis pela renda de uma casa para exercícios escolares e em 29 de Dezembro do mesmo ano pagou a António José Nunes (professor) 8.000 reis pela renda de uma casa da escola do sexo masculino relativos ao ano de 1893.
Por volta do ano de 1900 a Câmara inscrevia uma verba no valor de cerca de 15% do orçamento destinada à Instrução.
Em 19 de Junho de 1912 eram professores no Soito; Felicidade de Jesus Afonso Jorge Simões e José Augusto Nunes.
Aos onze dias do mês de Outubro de 1915 toma posse como professora da escola masculina do Soito a professora Maria da Graça da Costa e Pina, natural de Vila do Touro, depois de ter exercido em Alfaiates desde 26 de Agosto de 1914.
Nesta data havia duas escolas, uma feminina outra masculina a funcionar uma no actual edifício da Junta, outra nas casas que hoje pertencem ao Sr. João Augusto Pina Rito.
Em 6 de Agosto de 1917 e por imposição do Inspector Escolar, os alunos do sexo masculino que eram em maior numero e numa sala mais pequena foram transferidos para a feminina que era maior e com menor número de alunas, era então professora da escola feminina a professora Felicidade de Jesus Afonso Jorge Simões
Em 22 de Maio de 1918, Luís Ferreira Pires, professor diplomado pela Escola Normal da Guarda com a classificação de dezanove valores, foi nomeado para a regência interina da escola do sexo masculino da freguesia do Soito, tomando posse em 4 de Junho do mesmo ano.
Um ofício da professora da escola masculina lido na sessão da Câmara de 27 de Fevereiro de 1918 “pede a criação de um segundo lugar para a sua escola vista a enorme frequência da mesma, a Comissão deliberou organizar o competente processo.”

Está registado em acta da sessão de 17 de Abril de 1918 que a Junta da Paróquia do Soito informou encontrar-se pronto e mobilado o edifício para a escola masculina e pede seja dada essa informação ao Sr. Inspector. A Comissão administrativa resolve oficiar ao Sr. Inspector.
A professora Maria da Graça Costa e Pina, a exercer no Soito, foi a 18 de Maio de 1918, nomeada para a segunda escola feminina do Sabugal e, face a esta possível transferência, pediu a prorrogação do prazo visto ter 14 alunos para próximo exame do segundo grau e 7 para o primeiro grau, no entanto foi decidido em 22 de Maio não conceder essa prorrogação.

Em sessão ordinária de 3 de Julho de 1918 a Comissão Administrativa deliberou não autorizar a troca de professores da escola masculina do Soito com o seu colega de igual escola da freguesia de Almedina por estar informada de que este é um inválido.
Em 13 de Agosto de 1922 a Junta de Freguesia oficiou ao Inspector do círculo escolar do Concelho, autorizando-o a comprar todos os utensílios necessários à criação dos segundos lugares de professor e em 23 de Maio de 1926 informa que se encontra criado o 2º lugar de professor e que a casa se encontra pronta assim como a mobília.
Em 22 de Maio de 1932 e em virtude de haver dois professores na mesma sala, a Junta decidiu arrendar uma sala a João Martins Nicolau, na Rua dos Lameiros, por 250$00 anuais, a começar já em Junho sendo porém a Câmara a pagar a renda, situação que ainda acontecia em 1942 (acta de 21 de Março e cujo valor ascendia a 600$00 anuais)
Na acta da sessão de Junta de 12 de Junho de 1932 é referido que foram criados mais dois lugares de professor nas escolas do Soito, um masculino, outro feminino, o que levou esta Junta a abrir concurso, em 30 de Julho de 1933, para portas e caixilhos das janelas do 4º lugar e porta para a mesma escola, bem como a porta da escola do 2º lugar feminino, trabalho esse arrematado pelo melhor preço: 365$00 a Domingos Dias.
Em 1940 sabiam ler apenas 30% dos habitantes do Soito dos quais 52% eram homens e 48% mulheres. (a média concelhia era 59% para os “varões” e 41% para as “fêmeas” o que deixa pressupor já um quase equilíbrio educativo que só era ultrapassado pela Cerdeira e por razões óbvias, tinha colégio interno.)
A Câmara, em 8 de Fevereiro de 1941 propõe a construção de escolas no Concelho entre as quais se encontravam as do Soito e de Quadrazais com duas salas cada.
Um Decreto de 29 de Julho de 1941, estabelece o plano de construção de 19 escolas primárias no concelho do sabugal sendo fixado um prazo de 10 anos para a sua conclusão.
Ainda sobre o ensino, em 1941 o Decreto 31.433 estabelece a separação dos sexos no ensino particular podendo o mesmo estabelecimento ministrar aos dois sexos desde que possua instalações que permitam o funcionamento das duas secções completamente separadas.
Em 2 de Fevereiro de 1943 é criado o 4º lugar de professor para a escola do sexo feminino do Soito onde há 176 crianças recenseadas e tendo a Câmara assumido o compromisso de fornecer a mobília e todo o material didáctico, quanto à casa diz que nada pode fazer, visto que a casa que havia sido oferecida foi utilizada para a Casa do Povo.
As aulas iniciaram-se no actual edifício das escolas, embora incompleto, em 1949, tendo a água sido canalizada para as instalações em Setembro desse ano.
A elaboração do projecto para as escolas de Soito, Bendada, Foios e Vila Boa foi decidida em sessão de 15 de Janeiro de 1952
Durante os anos de 1952/53 e 54 a Câmara comparticipou na construção das escolas do Soito, Alfaiates, Vale de Espinho, Quarta Feira e Rebolosa.
No orçamento para 1953 a comparticipação do Município prevista para as escolas de Alfaiates, Souto, Vale de Espinho, Quarta Feira e Rebolosa foi de 58.655$00 e no segundo orçamento para o mesmo ano a verba sobe a 62.118$40
Em 1975, devido a obras de reparação nas escolas, foi decidido transferir as aulas para o salão paroquial onde acabaram por ficar durante quase sete anos até Dezembro de 1981.

Primeiras escolas do sexo feminino

Criação das primeiras escolas do sexo feminino

A criação da cadeira do sexo feminino para o Sabugal foi pedida em 13 de Julho de 1859 e de novo em 11 de Dezembro de 1864 sendo criada apenas em 1867 e tendo como ”Mestra das Meninas” Dona Maria Barbosa Afonso Borrega que em 1871 é substituída pela Dona Patrícia Afonso Borrega e depois de 15 de Janeiro de 1874 por Dona Brites Afonso Borrega que por motivos de doença beneficiou de várias licenças anuais.
Em 1888, o concelho do Sabugal, ainda com as freguesias de Parada, Porto de Ovelha e Miuzela, tinha apenas 27 escolas do sexo masculino e 10 do sexo feminino.
Aldeia da Ponte e Sortelha têm escola feminina em 1880, Alfaiates e Vilar Maior em 1881, Miuzela em 1882, Vila do Touro em 1883, Pousafoles em 1884, Cerdeira em 1886.
Quanto ao Soito, em 23 de Julho de 1888, a professora Josefa Dias da Anunciação requer à Câmara a nomeação para a cadeira escolar feminina tendo o pedido sido satisfeito no dia 28: “é nomeada professora temporária da cadeira do ensino primário elementar do sexo feminino na escola estabelecida na freguesia do Soito” .
Passou a dar aulas a 46 alunas e a 9 de Dezembro de 1891 pelo alvará Nº. 97 “é nomeada professora vitalícia com o ordenado anual de 100.000 reis mais as gratificações que por esta nomeação lhe pertencem” .
A escola feminina de Vale de Espinho foi criada no ano seguinte.
Em ofício de 24 de Outubro de 1884, a Junta da Paróquia do Soito já informara a Câmara, declarando que se achava habilitada para mandar construir a casa para os exercícios escolares do sexo feminino bem como a fornecer toda a mobília necessária para os mesmos. Este imóvel seria aquele onde hoje está instalada a Junta de Freguesia.

Um novo edifício escolar, para aulas e residência dos professores, (actual casa do Sr. João Rito) foi construído após autorização da Câmara concedida em 27 de Junho de 1897 no seguimento de um pedido da Junta da Paróquia feito em 9 do mesmo mês. As despesas de construção foram pagas com dinheiros da freguesia.

Evolução do Ensino

O Ensino


Quando foi criada no Soito, a cadeira das primeiras letras, por volta de 1830, não existiam as condições que hoje existem em termos de instalações para que alunos e professores pudessem utilizar um espaço condigno; uma qualquer loja improvisada servia para o efeito.
Só em 1845 a Câmara recebe o oficio número 73 da 2ª Repartição do Governo Civil datado de 26 de Outubro, onde, atendendo à Portaria do Concelho Superior de Instrução Pública de 13 de Outubro na qual “Sua Majestade a Rainha houve por bem ordenar que na Casa do Concelho da freguesia do Soito se façam alguns concertos; à abertura de uma janela e à limpeza de uma loja, conforme pedido do professor”.
A Câmara, só em sessão de 4 de Janeiro de 1846 dá seguimento ao processo e oficia à Junta da Paróquia para que “faça as referidas composturas que lhes serão levadas em conta”
Serviram de escola algumas casas particulares arrendadas pela Junta ou pela Câmara, entre elas há uma de João Martins Nicolau, outra de António José Nunes, a actual sede da Junta de Freguesia e a casa onde hoje reside o Sr. João Augusto Pina Rito.
O ensino oficial das primeiras letras nas aldeias, só aconteceu no século XIX, antes, só algum proprietário de mais posses tinha capacidade económica para mandar os filhos estudar para a escola da vila ou da cidade, outros aprenderam com os párocos das aldeias, obviamente as pessoas mais instruídas da época.
As escolas primárias foram criadas por Decreto de 6 de Novembro de 1772, no tempo do Marquês do Pombal, embora para o sexo feminino isso só viesse a acontecer em 1815.
Em 1844 foi decretado sob pena de sanções, que todos os pais deviam mandar os filhos à escola, obrigação a que no interior do país poucos davam cumprimento, o que resultava em povos quase analfabetos: basta recordar que em finais do século XIX era diminuto o número de alunos a exame de Instrução Primária no nosso concelho, pois em 1892 apenas foram aprovados 25 alunos entre eles 1 do Soito, 1 de Alfaiates, 1 de Quadrazais, 1 de Vila do Touro e 5 de Vale de Espinho… o que dá bem para perceber o desinteresse que os pais davam à instrução dos seus filhos ou da sua impossibilidade económica para o fazer.
Em 1866 o então concelho do Sabugal tinha 23 escolas entre as quais Castelo Mendo, Miuzela, Malhada Sorda, Nave de Haver, Freixo e Parada o que reduz esse número a 17 freguesias tendo em conta o actual limite do concelho e que eram as seguintes: Alfaiates, Aldeia da Ponte, Aldeia Velha, Bendada, Casteleiro, Lageosa, Nave, Pousafoles, Quadrazais, Sabugal, Santo Estêvão, Seixo do Côa, Soito, Sortelha, Vale de Espinho, Vila do Touro e Vilar Maior.
As escolas de Rendo e Aldeia do Bispo só aparecem em 1867
A criação da cadeira escolar das primeiras letras na freguesia do Soito terá sido criada por volta de 1830 e já em 1834 o Padre José Fernandes Sanches é citado como professor num assento de baptismo por ele realizado
Na sessão da Câmara de 17 de Março de 1835 é dada posse da Cadeira das primeiras letras do lugar do Soito ao Reverendo José Fernandes Sanches que se apresentou naquela, com uma provisão de professor das primeiras letras do lugar do Soito expedida pela Junta da Directoria Geral dos Estudos da Universidade de Coimbra em 18 de Fevereiro do mesmo ano.
O Soito, era à época a única povoação do concelho depois do Sabugal e para além de Vila do Touro há pouco incorporada, a ter “Mestre das primeiras letras” a quem a Câmara pagava 20.000 reis ao ano para além do que recebiam do cofre estatal.
Em 1837 o então concelho do Sabugal tinha três escolas pois contabiliza-se o pagamento de 12.500 reis, referentes ao semestre anterior, a cada um dos três Professores do Concelho: Sabugal, Soito e Touro, “entrando nesta importância alguns dias do ano anterior” a partir daí pagou 10.000 reis por semestre a cada um dos três professores até que no ano de 1852 aparece também a referencia ao professor da Lageosa e o pagamento de 20.000 reis a cada um.
Nas contas da Câmara de 1854 pode ler-se “… gratificação concedida a cinco Professores d’ Ensino Primário que há neste Concelho; nas freguesias de Sabugal, Souto, Lageosa, Nave e Touro, cujos Professores vencem anualmente 20.000 reis cada um, sendo o P.e António Carlos Bigotte em Sabugal, Manuel Fernandes Ruço no Souto, o Padre António R. Gouveia na Lageosa, Luís Cândido d’Araujo Guimarães na Nave e Luís António da Fonseca em Touro; cem mil reis.”
Tinha então o concelho apenas cinco professores, igual numero tinha o concelho de Vilar Maior onde já estava incluído o termo de Alfaiates, pois já são referidas as povoações de Alfaiates, Aldeia da Ponte, Malhada Sorda, Nave de Haver, Rebolosa, Aldeia da Ribeira, Bismula e Seixo do Côa como fazendo parte desse concelho.
Em 1839 (acta da sessão de Câmara de 6 de Janeiro) o concelho de Vilar Maior só tinha dois professores que seriam a própria Vila e de Alfaiates, já que este concelho foi integrado naquele por Decreto de 6 de Novembro de 1836.
Só em 1840 a Câmara de Vilar Maior pede a criação das cadeiras das primeiras letras de Aldeia da Ponte e Nave de Haver o que nos leva a concluir que ao juntar-se ao concelho do Sabugal em 1855 haveria escolas em Vilar Maior, Malhada Sorda, Alfaiates, Aldeia da Ponte e Nave de Haver, as cinco escolas que já em 1851 referia e cujos professores eram João António Ferreira, José Tavares Afonso, António de Oliveira Brandão, Paulino de Matos e João Manuel da Fonseca.
Por alvará Nº.1 de 3 de Julho de 1858 a Junta da Paróquia do Soito é autorizada “a vender uma propriedade que possui no Valle do Penago cujo produto se destina a concertos que têm que fazer-se nas casas das escolas d’Ensino Primário”
Em 8 de Agosto de 1865, um despacho do Ministro do Reino, Direcção Geral de Instrução Publica, nomeia para a cadeira do Ensino Primário do Souto e pelo período de três anos o Padre João Antunes, com o ordenado anual de noventa mil reis, pagos pelo Tesouro público e vinte mil reis pela Câmara Municipal respectiva e mais prerrogativas que doravante se acharem estabelecidas. Este despacho foi confirmado pelo Governo Civil em 19 do mesmo mês, tendo a Câmara conferido posse no dia 22. Este Professor deixaria o lugar em 8 de Maio de 1874.
De 9 a 20 de Maio, ocupa a cadeira de professor, Bernardo Robalo Nunes, do Soito, pois por despacho de 5 de Maio de 1874 o Ministro e Secretário de Estado dos negócios do Reino nomeia professor da cadeira do primeiro grau de instrução primária no Soito a José Pires Mendes, confirmado por sessão da Câmara de 20 do mesmo mês, porém, devido à transferência deste em 4 de Outubro do mesmo ano, é de novo nomeado interinamente para ocupar o seu lugar, Bernardo Robalo Nunes, conforme alvará do Reitor do Liceu Nacional da Guarda de 9 de Novembro de 1874 e inserido em acta da Câmara de 10 do mesmo mês.
Por portaria de 22 de Abril de 1875 é nomeado professor do ensino primário da freguesia do Soito, Luís Robalo Elvas o que a Câmara confirma em 12 de Maio, mas deixa de exercer o cargo em 31 de Agosto desse ano.
Em 7 de Outubro de 1875 o Administrador do Concelho do Sabugal, Albertino Carlos da Costa, nomeia de novo e para exercer interinamente o magistério da cadeira do ensino primário da freguesia do Soito, Bernardo Robalo Nunes que termina definitivamente em 23 de Novembro de 1876.
Por despacho de 14 de Outubro de 1876 da Direcção Geral de Instrução Pública, é nomeado professor da cadeira do 1º grau da escola desta freguesia, António José Nunes, do Soito, porém a posse foi julgada sem efeito em 12 de Dezembro do mesmo ano, que “deve considerar-se como regente da alludida cadeira, sem interrupção o professor nomeado interinamente Bernardo Robalo Nunes”, no entanto António José Nunes passaria a exercer e a vencer a partir de 23 de Outubro desse mesmo ano até que se reformou já no século XX, estando vivo ainda em 1926, já que a Junta de Freguesia lhe vendeu nesse ano, um pedaço de terra no cemitério com 2 metros quadrados por 400$00.
António José Nunes passou a professor vitalício por despacho de 26 de Novembro de 1879, o que é anotado pela Câmara em 13 de Dezembro do mesmo ano.
Bernardo Robalo Nunes foi delegado paroquial nas reuniões da Junta da qual pediu dispensa e que foi autorizada em 20 de Março de 1882 sendo substituído por José Martins Garcia Júnior reconduzido no cargo em 11 de Fevereiro de 1884.
Em 1880 apenas um estudante do Soito frequentava os estudos em Coimbra e tinha 20 anos, pois nascera a 19 de Junho de 1859 conforme registo da inspecção militar, chamava-se Bernardo e era filho de José Nunes do Gabriel e de Maria Garcia.
Em 1889 frequentavam as escolas; 85 alunos (38 rapazes e 47 meninas) num total concelhio de 1.561 em 32 escolas (24 masculinas e 8 femininas)

O Soito, anexo da Nave?

O Soito, anexo da Nave?

O significado: anexa, não tinha no século XVII o significado que hoje se lhe atribui, pois segundo alguns historiadores, o termo anexa entendia-se como “uma freguesia de alguma sorte dependente de outra considerada como principal pela apresentação, rendimentos, etc. mas com administração espiritual separada” .
A 27 de Julho de 1656 era Cura deste lugar do Souto o Padre Domingos de Faria, o mesmo que em 25 de Março de 1659 concedeu licença ao Padre João Dias, da Nave, para celebrar um baptismo no Soito. (casos como este são frequentes, o que demonstra a independência e autoridade do pároco em relação aos outros, mesmo ao da Nave)

É verdade que a Igreja do Soito esteve durante alguns anos hierarquicamente dependente do Prior da Nave mas não como anexa no sentido actual do termo já que era freguesia e tinha os seus órgãos administrativos próprios; para além do pároco estavam constituídos os “juízes do povo” que já eram referidos em 1630.


Diz (1758) o Padre Hipólito Tavares que o parocho desta freguesia do Souto hé Cura annual da apresentação do Vigário da Nave do Sabugal, o que ao contrário do que muitos afirmam, não quer dizer que a freguesia do Soito dependesse da freguesia da Nave no aspecto administrativo, pois nenhuma freguesia pode pertencer a outra, mas sim à sede de concelho.
A verdade é que o pároco do Soito: um Cura, (nome em que se notava ainda a presença Castelha) responderia anualmente perante o Pároco da Nave, (Vigário) como respondeu posteriormente a outros que assinavam a abertura e o fecho dos livros de assentos dos baptizados, casamentos e óbitos, mas sempre indicando que pertencia ao Arciprestado do Sabugal ou ao distrito eclesiástico de Alfaiates: Em 1856 e até 1870 era o Arcipreste Manuel Marques da Cª. Galhano que em Vila Boa assinava e numerava todas as paginas dos livros de registo, não só do Soito mas também da Nave, (ver livro de assentos paroquiais da Nave datado de 2 de Janeiro de1863) e de outros povos.
Em 1 de Janeiro de 1874 foi o Arcipreste da Nave António Gomes Costa (que havia sido pároco no Soito entre 1838 e 1843) quem assinou o livro e igualmente em 31 de Dezembro de 1878 onde escreveu: “Este livro hade servir para no mesmo se lançarem os assentos de batismos occurridos no presente anno de 1879 na freguesia do Soito, Arciprestado do Sabugal o qual por commissão do Exmo Snr Vigário Geral do Bispado de Pinhel por mim vai ser numerado e rubricado com o nome a abreviatura que uso de AG-C. Leva no fim o competente termo de incerramento. Nave 31 de Dezembro de 1878. O Reitor Arcipreste António Gomes Costa”. Em 31 de Dezembro de 1883 era o Arcipreste Francisco Quelho de Vila Boa quem assinava os livros e pouco depois (1891-1912) era o reitor Bernardo Nunes natural do Soito mas a exercer na Nave.
Em 1914/1915 foi o Arcipreste Vital Augusto Lourenço de Almeida, de Rendo.
Entre 1916 e 1925 foi o Arcipreste José Gonçalves Leitão de Aldeia da Ponte.
Em 1926/27 volta a ser o Arcipreste Vital Lourenço de Almeida.
Em 1942/44 os livros estão assinados pelo padre Domingos Manso Pires do Rochoso
Entre 1944 e 1950 foi o Padre José Luís Antunes da Ruvina.
Em 1964 era ainda o pároco da Ruvina quem assinava a abertura e fecho dos livros de registo o que em 1982 era feito pelo Padre António Teixeira Souta do Sabugal sem que o Soito fosse anexo de qualquer destas povoações.
É contudo interessante saber, que na época em que o Cura do Soito dependia do Prior da Nave, o que parece ser confirmado pelo Padre do Soito, Thome Joam, em 30 de Janeiro de 1630 quando escreve: … o Reverendo Prior Monteiro de Távora, reytor da igreja da Nave e suas anexas de que esta igreja he uma dellas, eram também Curas da apresentação do Vigário da Nave os párocos de Foios, Lageosa da Raia, Ruivós, Ruvina, Vale de Espinho, Vale das Éguas e Vila Boa, povoações que como freguesias tinham administração independente e nas quais o reitor da Nave só podia celebrar sob licença do respectivo Cura.
Todos estes párocos pagavam ao Vigário da Nave, como representante do Vigário Geral e pelo simples facto de este assinar os livros de registo, uma renda anual em dinheiro, centeio, trigo ou vinho de que posteriormente daria contas ao Bispado conforme o número de registos feitos em cada lugar, cujo valor era mencionado em cada registo, principalmente nos dos óbitos.
Não encontramos, nas memórias paroquiais da época, qual o valor da contribuição do Soito, sabemos porém que em 1758 Ruivós pagava 68 alqueires de centeio, outros tantos de trigo e 600 reis, Vila Boa pagava 40.000 reis, Vale de Espinho 50 alqueires de trigo, 50 de centeio e 3.000 reis e os Foios 120 alqueires de centeio e 6.000 reis.
Efectivamente, em 3 de Janeiro de 1660 já o Padre Domingos de Faria refere Freguesia de Nossa Senhora da Conceiçam do Lugar do Souto Sima Côa.
Nas Memórias Paroquiais de 1758, o Reytor da Nave padre Luís Tavares diz no item 6: “A parrochia Igreja Matriz está fora do lugar hum tiro de mosquete e nam comprehende mais lugares nem aldeãs que a ella sejam obrigadas, senam a referida Aldea das Donas”

De 1758 até aos nossos dias

De 1758 até aos nossos dias

Em 1758, a paróquia do Soito era composta por duzentos e vinte seis vizinhos, com um total de setecentas e vinte pessoas, já possuía Igreja Matriz e nove capelas, (Santo António, Santo Amaro, Santa Bárbara, São Modesto, São Brás, Senhora dos Prazeres, São João, Espírito Santo e da Misericórdia) o que deixa perceber a importância da povoação.
No meu entender de leigo, penso que um simples lugarejo, como alguns pretendem que fosse, jamais teria a capacidade financeira para construir as nove capelas em meio século e, sem querer entrar no âmbito do fantástico, podemos perfeitamente adivinhar que o Soito seria, já então, uma aldeia rica, com abundantes recursos agrícolas, de gente activa, ambiciosa, com ideias futuristas e com uma capacidade de iniciativa invejável não só a nível Concelhio mas até Distrital, daí a animosidade com que era, (ainda é?) olhada por outros povos menos empreendedores.
Segundo o Dicionário Geográfico e a crer na informação prestada pelos párocos das freguesias, a pedido de Sebastião Joseph de Carvalho e Mello (Marquês do Pombal) feito em 18 de Janeiro desse mesmo ano, a população nos diferentes povos era, para além do Soito com 226, a seguinte: Alfaiates 157 vizinhos, Aldeia da Ponte 167, Aldeia Velha 62, Aldeia do Bispo 68, Aldeia da Ribeira 75, Aldeia de Santo António 96, Aguas Belas 81, Badamalos 66, Bendada 77, Bismula, 96, Cerdeira 283 pessoas maiores e menores, Casteleiro 152, Foios 10, Lageosa 48, Lomba 46, Malcata 73, Moita 60, Nave 158, Penalobo 87, Pousafoles 89, Quadrazais 190, Quintas 100, Rapoula 69, Rendo 188, Ruivóz 50, Ruvina 40, Santa Maria do Sabugal 125, São João (do Sabugal) 123, Santo Estêvão 95, Seixo 100, Sortelha 211, incluindo as Quintas de Quarta-Feira, Santo Amaro, Clérigo, Dirão da Rua e Espinhal.
Urgueira 96, Vale das Éguas 45, Vale de Espinho 70, Valongo 30, Vila Boa 109, Vilar Maior 175 e Vila do Touro 130.


Censo de Pina Manique

Em 1798, estávamos portanto ás portas do século XIX, e segundo o Censo de Pina Manique editado pela Fundação Gulbenkian em 1970, o Soito tinha 243 fogos, o Sabugal com 264 (em duas freguesias; Santa Maria (115) e São João (149). Quadrazais com 292 (incluindo o Ozendo) era a maior freguesia do concelho, a seguir vem Rendo com 200 fogos, a Nave com 157, Vale de Espinho 119, Vila Boa 116, Aldeia do Bispo 102, Aldeia Velha 100, Lageosa 97, Ruvina e Valongo ambas com 52 cada, Vale das Éguas 45, Ruivós 42 e Foios com 20.
Alfaiates contava então com 179 e Aldeia da Ponte 190,

Outros Censos

O Soito tinha em 1822; 230 fogos, e ultrapassava a própria sede de concelho, que com duas anexas, não ia além de 219,
Em 1837 e segundo documentos da Câmara a população do concelho era a seguinte por freguesias: Quadrazais 318 fogos, Touro 260, Soito 230, Sabugal 218, Vale de Espinho 181, Nave 163, Aldeia Velha 156, Rendo 155, Lageosa 135, Vila Boa 126, Aldeia do Bispo 116, Quintas 80, Rapoula 63, Foios 60, Ruvina 34.
Em 1862 o Soito tinha 335 fogos com um total de 1.400 habitantes, em 1890 eram 390 com 1.338, em 1900: 401 e 1.508, em 1911: 432 e 1.604, em 1920: 427 e 1.561, em 1930: 526 e 2.009.
Em 1930 eram 2.009 habitantes, 739 homens, 896 mulheres e sabiam ler 368, havia 29 viúvos e 94 viúvas.
No mesmo ano em Quadrazais (com Ozendo) 2.085 habitantes 703 varões, 958 fêmeas e sabiam ler 364.
Vale de Espinho com 1.832 habitantes, 579 eram varões, 772 fêmeas e 375 sabiam ler.
Alfaiates tinha uma população de 1434 pessoas, 503 eram homens, 672 mulheres e sabiam ler 259.
Em 1940, o Soito tinha 616 fogos com 2.439 habitantes, num total concelhio de 41.909.
Ainda, e segundo o VIII Recenseamento realizado em 1940 pelo I.N.E. desses 2.439 referidos, 438 residiam do lugar de Santo Amaro, 731 sabiam ler, havia 98 viúvas e 22 viúvos, 3 não tinham religião, 4 praticavam religião desconhecida e já então havia um casal separado judicialmente.

Ainda o Censo de 1940

Neste censo são contabilizados no Soito 2.439 residentes, enquanto que em Quadrazais se contam 2.580, acontece que noutro mapa mais detalhado é feita a divisão de lugares e o Soito é dividido em Soito com 1.993 habitantes e Santo Amaro com 438, coisa que nada tem de realista, já que ambos são um e o mesmo povo.
Os 2.580 de Quadrazais estavam assim distribuídos: Quadrazais 1.760, Ozendo 545 e isolados e dispersos128.
Ao Sabugal atribuíram 3.035 pessoas presentes, porém, na vila apenas habitavam 2.287, no Cerdeiral 25, nas Teixedas 56, na Torre 568 e isolados ou dispersos 89.
Assim, em 12 de Dezembro de 1940, o Sabugal seria o principal lugar com 2.287 habitantes presentes, logo seguido pelo Soito com 1993 (sem Santo Amaro) e depois Quadrazais com 1760 conforme se pode ler na página 39 do volume X do VIII Recenseamento publicado em 1944.
Comparativamente e a nível distrital, tendo em conta os lugares, podemos ver que o Soito (Povo) com 1.993 habitantes só tinha pela frente a Sé da Guarda com 3.900,Vila Nova de Foscôa com 3.226, São Vicente (Guarda) 2.656, Loriga 2.363, Sabugal 2.287, Meda 2.191, Vale de Espinho 2.115 e São Pedro (Gouveia) 2.045.
Se partirmos do pressuposto que o Soito e Santo Amaro são na verdade o mesmo povo, então o Soito com 2.439 habitantes ocuparia a quarta posição atrás da Guarda (Sé), Guarda (São Vicente) e de Vila Nova de Foscôa.
A título informativo é de realçar que o concelho do Sabugal era o segundo do Distrito com 8.265 casais a seguir à Guarda que tinha 8.768, Seia ficava-se pelos 6.580 seguida por Gouveia com 5.249.

Os Censos (ou recenseamentos) seguintes

Em 1950 o Soito tinha 591 famílias, com 2.708 residentes e somente 1.102 sabiam ler.
Quadrazais tinha 2.604 e sabiam ler 1.264.
O X Recenseamento efectuado em 1960 e publicado em 1963 atribui ao Soito apenas 2.376 residentes o que mostra uma quebra de 63 moradores no espaço de duas décadas.
Se tivermos em conta que durante esse espaço de tempo houve 1.975 nascimentos e 1.001 óbitos o que dá um saldo positivo de 974 indivíduos a que juntando os 63 negativos do Censo dará o número de 1.037 pessoas que estando em falta, ou emigraram ou se deslocaram para outras regiões do País.
Havia ainda, segundo o mesmo Censo, 2.237 católicos e 139 pessoas sem religião, 38 viúvos e 102 viúvas.
A nível concelhio o Sabugal perdeu 3.847 habitantes durante vinte anos já que em 1940 a população ascendia a 41.909 indivíduos e em 1960 eram apenas 38.062, foi certamente nesta época que o povo acordou para a emigração.
No censo de 1980 o Soito tinha 1208 habitantes e em 2001: 1.433.
Estes números são justificados pela forte emigração dos anos 60 e 70 do século XX que levou para outros países, ou até para as grandes cidades do nosso país, toda uma juventude ávida de um melhor porvir.
Hoje (2008) a maioria dos filhos do Soito residem fora da terra que os viu nascer e isso está bem patente a cada Agosto, o que de algum modo não deixa de ser preocupante já que os seus filhos e netos vão de pouco a pouco perdendo o amor às raízes.

Que lugarejo?

O lugarejo que o Soito não era
Existe documentação oficial que contraria o conceito de lugarejo que alguns vulgarizaram, atribuindo ao Soito em princípios do século XVIII apenas 36 fogos.
È fácil contestar esta versão através de documentos onde constam os assentos dos registos de baptismos das diversas freguesias que então compunham o concelho.
A média anual de baptismos nos primeiros anos do século XVIII foi de 36, ora tendo em conta que a percentagem de nascimentos rondava na época e até à década de 1940 os cerca de 15% sobre os fogos, teremos obrigatoriamente uma população de mais de 200 fogos.
Sabemos que em 1700 houve no Soito 31 baptismos: a 3 de Janeiro é baptizado João e a 17 Catherina.
No dia 14 de Fevereiro Catherina, a 22 Roza e a 28 Domingos.
Em Março: Isabel a 8 e Anna a 13.
Em Abril: Anna a 18, Domingos a 25.
Em Maio: Maria no dia 20 João a 22 e outra Maria a 22, Anna a 29 e Catherina a 30.
Em Junho: Manoel a 12.
Em Julho: Guiomar a 28.
Em Agosto: Catherina no dia 13, Maria a 19, Catherina e Anna a 20.
No primeiro de Setembro Manoel, a 16 Maria, a 22 Catherina e a 29 João.
Em 11 de Outubro Catherina e a 13 Francisco. Em 9 de Novembro Maria e Anna, a 11 Domingos, no dia 18 Francisco.
No dia 18 de Dezembro: Catherina.
Em 1701 formam ministrados 34 baptismos, em 1702 realizaram-se 44, em 1703: 27 e em 1704: 42, ora estes números não podiam ser produzidos apenas por 36 fogos e por outro lado são superiores aos registados noutros povos do concelho a quem o Padre António Carvalho da Costa atribuíra uma população varais vezes superior e de que daremos exemplos na alínea seguinte.
O número de casamentos realizados também contraria os dados do Padre Carvalho, pois só na década de 1681/1690 foram recebidos pelos Padres Domingos Mansso e António B. Azevedo 65 casais.
Ainda sobre este assunto refiro que já em 1623 foram registados 11 casamentos, o que pode ser verificado nos registos assinados pelo padre António da Fonseca. (mais adiante podemos ver um mapa de casamentos de 1623 a 1690).
Outra razão para descrer da informação do Padre Carvalho, ou de quem lhe forneceu os dados que publicou, é que no espaço de sete anos (desde 1685 até 1691) foram feitos no Soito 141 registos de óbitos, número que podemos considerar desproporcional em relação ao número de habitantes que lhe fora atribuído. Se morressem 20 pessoas por ano num grupo de 36 fogos a extinção desse povo seria inevitável.
Mais, quando se referem 36 fogos em 1708 essa informação peca ainda por erro anacrónico já que a Chorografia Portuguesa (volume 2) do Padre António Carvalho da Costa, recebeu autorização do Santo Oficio em 7 de Janeiro de 1707, do Ordinário em 26 e do Paço em 20 de Fevereiro. A última autorização para “correr” foi dada em 5 de Dezembro de 1708, logo, já teria sido escrita muito antes o que provavelmente antecipa em alguns anos a recolha dos dados referidos, portanto o erro promoveu-se e foi transmitido pelos historiadores seguintes que não se preocuparam em justificar dados, apenas os copiaram

Comparações relativas
Em Alfaiates e no mesmo ano de 1700, houve 16 baptismos, sendo que foi 1 em Janeiro, 1 em Fevereiro, 1 em Março, 1 em Abril, 3 em Junho, 3 em Agosto, 1 em Outubro, 1 em Novembro e 4 em Dezembro.
Em 1697, em Alfaiates realizaram-se 27 baptismos, em 1698: 28 e em 1707: 24.
Em Rendo, a quem o autor atrás citado atribui três vezes mais população, houve em 1699 apenas 18 baptismos, em 1700: 22, em 1701: 14 em 1708: 25 e em 1710: 10.
Também em Ruivós, a cuja freguesia são dados 100 moradores, houve em 1696 somente 6 baptizados, em 1697:10 e em 1698: 11.

Em Aldeia do Bispo nos anos de 1700 a 1702 (3anos) houve cerca de 20 baptismos, em Aldeia da Ponte e nos mesmos anos houve cerca de 100, em Aldeia Velha cerca de 30, em Vale de Espinho 25, em Quadrazais no ano de 1701, nos primeiros nove meses, (Janeiro a Setembro) por ilegibilidade dos restantes dados, foram realizados 31 baptismos e em Santa Maria do Castelo Sabugal entre 1700 e 1705 conta-se também um número próximo da centena de registos de baptismos.

Na Nave e porque não encontramos registos referentes aos anos atrás referidos, contámos 58 baptismos nos anos de 1690 a 1693 o que dá uma média anual aproximada a 15.
Ora se no Soito foram registados nos anos de 1700 a 1704 (cinco anos) 182 baptismos, (uma média superior a 36 por ano) o número mais elevado do concelho, que só eventualmente poderia ter sido equiparado ou superado por Quadrazais, como podemos acreditar nas informações que nos foram dadas e que tanto tempo mantiveram no engano os leitores de tais textos e que de boa fé as transmitiram aos outros que não sabiam ler?

População (1527-1640)

População

“A cidade não consiste nos edifícios, são os homens quem a forma” Montesquieu

Período 1527/1640

No Cadastro da população do Reino datado de 1527, o Soito é já o maior lugar do termo do Sabugal num total de 1.027 moradores e assim distribuídos: Na vila; muros adentro 96, no arrabalde 127, no Souto que he o principal lugar com 160, Quadrazais 134, Nave 98, Aldeia Velha 55, Aldeia do Bispo 36, Vale de Espinho 58, Vila Boa 25, Ruivos 28, Rendo 28…
Nesta data Vila do Touro contava 162 moradores, Alfaiates 131, Malhada Sorda 140 e Vilar Maior 60.
Ficamos a saber por esta informação, que ao terminar o primeiro quartel do século XVI, o Soito era já o maior lugar do concelho e só era ultrapassado em população pelas vilas do Sabugal com 213 e Almeida com 264.
Segundo a Estimativa da População Portuguesa em 1640, do Professor Joaquim Veríssimo Serrão editada em Lisboa em 1975 (Memórias da Academia de Ciências) e citando Rodrigo Mendez Silva em Poblacion General de Espanha, o Soito (Souto) já constava num mapa de Portugal ao lado de povoações como Alfaiates, Castelo Bom, Castelo Melhor, Alijó, Numão, Vilar Maior, todas com uma população entre 100 e 200 fogos. Sobre o Sabugal diz: no lexos de la raya castillana yaze la villa de Sabugal, junto al rio Côa… com forte castillo, 250 vezinos y dos parróquias e o termo era “fértil de pan, ganados, caças, pesca e algun vino”.
Sobre Alfaiates: em sitio alto, esta villa de Alfayates, comarca de Piñel, cerca de Sabugal, com castelo, 180 vezinos, una parróquia, abundante de pan e ganados.
Acerca deVilar Maior: comarca de Piñel distante 6 leguas esta Villar maior em lugar alto, com fuerte castillo, 100 vezinos.
A Castelo Melhor atribui 100 vizinhos, a Castelo Bom 120, a Sortelha 400 e a Almeida 300.

O passado mais distante

O passado mais distante

As memórias de um povo dependem desse mesmo povo e da sua capacidade em preservar os vestígios herdados dos seus ancestrais, é ele o povo, na medida em que o souber fazer, que ao escrever essa mesma história, se torna responsável pela transmissão e ligação do passado ao futuro.
Não é visível, do ponto de vista patrimonial, qualquer sinal de que o Soito seja uma povoação medieva, há contudo documentos que fazem prova e testemunham uma idade bem remota.
O historiador A. de Almeida Fernandes no seu livro Paróquias Suevas e Dioceses Visigóticas editado em 1997, cita “ Caliabria teneat de Sorta usque Albernam, de Sotto usque Farum” acabando por concluir que este Sotto teria sido uma civitas de Transcudani, e que correspondia claramente a Souto, concelho do Sabugal: a paróquia visigótica de Sancta Maria de Sotto, mais tarde chamada Santa Maria do Souto de Riba Côa, o que demonstra num mapa onde Sotto aparece situado na actual localização geográfica do Soito.
Sabemos que a Caliabria existiu e que os seus bispos tomaram assento nos concílios de Toledo, mas que posteriormente, os suevos e os visigodos foram expulsos ou absorvidos pelos Mouros que dominaram uma grande parte do território peninsular durante os séculos seguintes.
Quando a região de Riba Côa, da qual o Soito faz parte, passou para o domínio Português em 1297 através do Tratado de Alcanizes, continuou a mesma a fazer parte do Bispado da Ciudad Rodrigo até 1403 e era daí que as paróquias eram governadas em termos religiosos.
Foi o Bispo de Lamego D. João Vicente que conseguiu a desanexação do território o que foi confirmado por bula de Bonifácio IX a 5 de Julho de 1403, passando esta faixa de território a fazer parte da Diocese de Lamego até à criação da Diocese de Pinhel em 1769, ou 1770 ?, para a qual transitou até 1822, altura em que extinta esta, foi incorporada na Diocese da Guarda a que ainda hoje pertence.
Em 1341, o Soito (Souto) já constava na lista das Igrejas de Riba Côa no termo do Sabugal, (Sabugal, Vale de Espinho, Souto, Aldeia dos Freires, Caria Talaia, Vila Boa, Aldeia do Bispo e Quadrazais, num total de quinze Igrejas, incluindo Igrejas e Ermitanias) que à altura pertenciam ao Bispado de Ciudad Rodrigo.
Algum tempo depois, exactamente a 3 de Junho de 1359, os juízes exactores reunidos na cidade da Guarda principiaram a taxar as Igrejas pertencentes ao dito Bispado que estavam dentro dos limites de Portugal, sendo então a Igreja de Santa Maria do Souto taxada em 10 libras.
A propósito, devo esclarecer, que a primitiva paróquia de Santa Maria do Souto, a que muitos e variados documentos se referem, só mais tarde passaria a ter por padroeira Nossa Senhora da Conceição, já que o culto à Imaculada, começou a generalizar-se a partir do século XIV, depois do Sínodo de Salamanca efectuado em 29 de Outubro de 1310, mas só em meados do século XVII (25 de Março de 1646) D. João IV a proclamou padroeira “dos nossos reinos e senhorios” o que seria confirmado pelo Papa Clemente X em 8 de Maio de 1671.
Nos registos paroquiais mais antigos e chegados até nós (séculoXVII) já era referida a freguesia de Nossa Senhora da Conceiçãm do Lugar de Souto e alguns anos mais tarde os párocos escreviam: Soutto, freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Cima Côa.
No século XV e a crer nas informações dadas pela Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, era anexa à Matriz do Soito, a Igreja de Santa Madalena de Vale de Espinho.
Nesses tempos, a dependência dos povos, no aspecto religioso, flutuava à mercê dos interesses dos prelados que atribuíam benesses e privilégios aos seus protegidos, estivessem ou não colocados em grandes povoações, em desrespeito pela grandeza populacional dos povos.
Em 1511 e segundo M. Gonçalves Pereira em Historia do Bispado de Lamego, o Sabugal tinha três paróquias: São João com as anexas da Nave e Lageoso, São Miguel à qual estava unida a do Soito, apesar de ser câmara do Bispo e Santa Maria.
Diz ainda que “os frutos da Paróquia de Santa Maria do Souto no valor de 80.000 reis os colhia João Álvares Pereira e deles pagava 20 ao Prelado, a Vigararia, incluindo as anexas, rendia 24 mil reis, conforme informação do pároco João Fernandes”.
Diz ainda que se “intitulavam Câmaras do Bispo as paróquias de Parada, São Domingos, Trevões, Canelas, Izivo, (Azevo?) que pagava 1.500 reis, Aveloso, Bramador e Souto de Riba-Côa”.
Após a Restauração da Independência e aquando das disputas fronteiriças então verificadas, diz J. M. Correia, citando Portugal Restaurado, que os generais D. Sancho Manuel e D. Rodrigo de Castro se reuniram no Soito com as suas forças militares e daqui partiram para Alcântara com 400 cavalos e 250 infantes, logo, é de presumir, ainda que a história o não diga, que entre estes soldados alguns seriam certamente Soitenses, fortes e destemidos como sempre foram, comandados pelo capitão Diogo Martins de Amaral (o Tolda).
No período pós restauração, a confusão e a desordem estavam instaladas na região e o Soito sofreu duramente as consequências da semi-anarquia que reinava: tanto o Soito como alguns povos vizinhos foram saqueados e espoliados dos seus maiores valores, não só pelos invasores, mas também por vizinhos bem próximos, talvez salteadores e mais bem armados.
Devido ao vandalismo e à barbárie, que se hoje existem foram muito mais praticados pelas gerações que nos antecederam, quer através das lutas e guerras fronteiriças, quer através do saque e vandalismo perpetrados pelos invasores ou pelo simples prazer de destruição que aliás não atingiu apenas o Soito, já que há registos de destruição em Alfaiates, Quadrazais, Aldeia da Ponte, Malhada Sorda e outros povos que, algumas vezes incendiados, se viram esvaziados de uma boa parte do seu património histórico.
Diz o “Reytor” António Carvalho Baptista, em Memórias Paroquiais de Alfaiates: avistão-se para poente correndo a sul as capelas de S. Braz e Santo Amaro no lugar do Souto… e referindo-se à guerra diz que por alturas de uma invasão de tropas castelhanas, que andariam “nos carrascais da Rebolosa, vieram as tropas do Souto, Quadrazais, Malcata e Sabugal aliadas a esta goarnição lhe saíram ao encontro, obrigando as tropas inimigas a huma vergonhosa retirada”, isto por volta de 1709 segundo a mesma fonte, o que significa que o Soito tinha então um corpo de tropas, situação que também parece ser confirmada, ainda que indirectamente, pelos capitães, tenentes e sargentos que são referidos nos registos paroquiais da época.

Fundação e origens

Fundação e Origens

Não me é possível, a mim nem a quem quer que seja, datar a provável fundação do Soito, nem tão pouco do Sabugal de Alfaiates ou de Vilar Maior, que serão eventualmente de fundação muito mais remota do que muitos pensam, nem a origem das suas gentes.
Se não há quem, ou algo, que possa provar a idade aproximada da fundação do Soito, também ninguém se pode arrogar no direito de aventar hipóteses de idade por simples palpite, e o facto de alguns historiadores afirmarem, baseados em dados porventura errados, que o Soito era em princípios do Século XVIII, um pequeno povoado, deve ser considerado como simples opinião pessoal porque os dados históricos existentes e fundamentados contrariam tal afirmação, conforme veremos mais adiante.

Há quem, com ideias feitas, mas sem qualquer base documental, diga que esta povoação foi fundada por gente fugida à justiça, a verdade é que a maioria dos povos de Riba Côa e outros próximos, desde Penamacor a Castelo Bom passando pelo Sabugal, Vilar Maior, Alfaiates e a própria Guarda, foram, em tempos idos, coutos de homiziados, (criminosos que por decisão régia, neles permaneciam um período variável de anos, dedicando-se ás actividades quotidianas, agricultura e artesanato, sob controlo de funcionários do Rei.)
Uma outra situação que tantas vezes é referida é o caso dos forais do Sabugal, como se estes fossem apenas concedidos à Vila isoladamente, ora quem os leu sabe que os privilégios por eles outorgados são extensivos “à vila e seu termo” no qual o Soito sempre esteve incluído, por isso labora em erro, quem como tal os não entende.
Leiam-se os forais de 1296 (10 de Novembro) e de 1515 (1 de Junho).
Porque possui um solo dos mais ricos do Concelho e abundância de castanheiros, multi-centenários (pelo menos até há poucos anos) é fácil de admitir que esta terra foi povoada desde épocas distantes, mas povoada por gente trabalhadora que por humilde não teve direito a constar na história, daí o presumível alheamento, ou esquecimento propositado, de alguns cronistas e historiadores em referir o nome da povoação.
O facto de se situar afastado da rota dos viajantes, (embora João Maria Baptista, na sua Chorografia Moderna diga: o Soito está situado numa das estradas que vão do Sabugal para Alfaiates) e dos caminhos reais por onde se deslocavam os negociantes e mercadores, os coches dos monarcas ou seus mensageiros, talvez tivesse sido uma das razões para este povo ser remetido à solidão e pacatez do seu ignorado canto embora aqui fossem produzidos em abundância alguns alimentos que iam saciar as gentes de outras terras menos abastadas ou produtivas.

Situação geográfica

Situação e espaço geográfico

Situada no Planalto Central Raiano, a uma altitude média de 900 metros, na margem direita do rio Côa, do qual dista pouco mais de quatro quilómetros e aproximadamente uma dezena da sede de concelho, a vila do Soito era até há pouco tempo a maior aldeia do concelho do Sabugal a que pertence desde tempos imemoriais, hoje é uma vila das mais novas deste país já que a sua elevação a essa categoria ocorreu no dia 13 de Maio de 1999 por aprovação da Assembleia da República.
Com uma superfície um pouco superior a 30 quilómetros quadrados, (30,380) o Soito não é aquela pequena freguesia, em tamanho, que alguns conterrâneos admitem, o Soito é (entre 40) a nona maior freguesia do concelho logo depois do Casteleiro, Sortelha, Quadrazais, Vale de Espinho, Bendada, Aldeia da Ponte, Sabugal e Aldeia de Santo António.
Dentro do seu espaço geográfico caberiam duas freguesias como a Bismula e Águas Belas ou Lageosa e Aldeia do Bispo.
As fronteiras territoriais das freguesias estão delimitadas oficialmente e não podem ser alteradas, caso contrário o Soito seria hoje umas das três primeiras, já que alguns dos seus proprietários têm vindo a adquirir a congéneres seus de outros povos vizinhos, alguns prédios rústicos com os quais partilham extremas e que assim avolumariam significativamente a actual superfície da freguesia.
A maior mancha verde continua do concelho localiza-se no circulo Soito, Quadrazais, Vale de Espinho, Foios, Aldeia do Bispo, Aldeia Velha e Alfaiates, povoações que a rodeiam.
A Serra do Homem de Pedra, que se planta ao alto de sentinela a nascente da povoação, tem uma altitude de 1.135 metros, e é um dos locais mais altos do concelho donde se pode ter uma ampla visão das Serras que o circundam desde a Malcata à Estrela, passando pela Marofa e pela Gata e que só se esfuma no horizonte travada pela penumbra que o envolve nos dias menos claros.
A meio do declive e sensivelmente a Noroeste da Serra, está o Cabeço da Granja que dá ou recebeu o nome da ermida de Nossa Senhora dos Prazeres ou da Granja.
No seu território nascem três ribeiras que são como que as três veias principais: Ribeira da Granja que desliza da vertente da Serra rumo a Alfaiates e na qual ainda há poucos anos havia abundância de peixe, principalmente bordalos, bogas, etc., a Ribeira da Nave nascida nos terrenos das Alagoas em direcção à Nave, ambas correndo para Norte e o Ribeiro do Bispo que brotando no Cabeço da Vaca no sentido Noroeste, acorre à Murganheira, limite de Vila Boa correndo já a Poente.
Todas as ribeiras vão desaguar ao rio Côa.
As águas são abundantes e generosas, tornam férteis os seus vales, e apesar da seca que se verifica noutras regiões é raro verificarem-se situações de carência e as regas são executadas em tempo oportuno.
Porque a povoação está situada como que no sopé dos montes e porque a montante não existe qualquer outro povo, todas as nascentes têm origem nos terrenos da freguesia e o Soito não recebe água poluída por ninguém o que é um privilegio que devia ser mais aproveitado e rentabilizado.
Os seus terrenos, apesar do clima agreste, são férteis e de fácil amanho face à suavidade do declive e se o Soito tem hoje cerca de 100 tractores agrícolas com os quais os seus agricultores cultivam a terra, esse trabalho era, até meados dos anos sessenta, feito por centenas de juntas de vacas que lentamente, com a charrua ou o arado, desbravavam e sulcavam os campos desde o nascer ao pôr – do -Sol, dia a pós dia, ano após ano.
As searas, qual tapete ondulante a perder de vista, verdejantes na Primavera douradas no Verão, dão-nos a abundância do pão e ainda nos oferecem uma paisagem encantadora num deslumbramento de grandeza, que nós, distraídos, não sabemos contemplar nem apreciar devidamente.
Os extensos prados verdejantes e floridos na Primavera, são também uma riqueza acrescida onde os gados pastam mansamente ou quando se colhe o feno destinado à sua alimentação durante as épocas do gelo ou de neve que se prolongam por vários meses e dificultam ou põem mesmo em risco a sua sobrevivência.
Embora hoje as vinhas sejam quase inexistentes nos limites da freguesia, ainda há poucos anos elas ocupavam uma boa fatia do terreno, já que mais de uma dúzia de agricultores produziam centenas de milhares de litros de vinho quantidade suficiente para consumo interno e alguns anos até, quando a produção era excedentária, vendido para fora, à semelhança do que acontecia com o trigo, centeio, batata, castanha, feijão e outros artigos agrícolas.
A extinção das vinhas deveu-se em parte à falta de braços para o seu cultivo já que a emigração levou mais de metade dos nossos jovens reduzindo fortemente a oferta de mão-de-obra tão necessária a este tipo de cultura, mas também à verificação de alterações irregulares no clima, que tornou inviável e desinteressante, do ponto de vista económico, o prosseguimento da actividade neste sector produtivo.
Os castanheiros seculares e até alguns milenares, que há apenas três décadas vestiam a terra e imprimiam pela sua grandeza, uma paisagem ímpar, foram desaparecendo, deixando a descoberto grande parte dos terrenos.
As doenças que afectaram esta espécie e o abate intenso para madeira, nos anos setenta e oitenta, foram as causas primeiras que deram lugar ao quase desaparecimento da espécie, em apenas duas décadas desapareceram mais de 99,9% destas seculares árvores.
Frondosas e de grande porte, estas arvores foram em épocas não muito distantes, sobrevalorizadas graças ao valor do seu fruto que contribuía em grande parte para a alimentação deste povo, hoje podemos dar conta de um avanço significativo na reflorestação harmónica dos soutos, mas terão que decorrer varias décadas ou mesmo alguns séculos, até que a paisagem se assemelhe ao que foi e da qual ainda hoje muitos se lembram.

Introdução

Nenhum livro é tão ruim que não possa ser útil sob algum aspecto.
(Plínio o velho)

Introdução

Esclarecimento

Ao aceitar o encargo de escrever algo sobre o Soito, estava bem ciente das responsabilidades com que iria arcar, sabia também que a falta de conhecimentos seria um entrave à feitura de uma tal obra, apenas aceitei o desafio mercê da vontade de divulgar e promover mais esta terra, que também é minha, e porque daí também receberia, talvez, uma qualquer mais-valia cultural, através do acesso a informações que até então, ou não me tinham interessado sobremaneira, ou que provavelmente de outra forma me estariam vedadas.
Não sou alheio ao facto de, estatisticamente, ser considerado analfabeto, pois com apenas a 4ª. Classe de Instrução Primária, é esse o estatuto a que os organismos, quer estatais quer privados, me remetem, daí que apele aos leitores para serem sensíveis aos erros próprios de um autodidacta que no dizer de Mário Quintela significa ignorante por conta própria, o que assumo sem protestar, embora, no meu entender, pense que a regra não é de todo absoluta, a tenha ignorado em todo este meu trabalho e entenda que o conhecimento não é um privilégio daqueles que entram para além das portas das Universidades.
Este tempo de pesquisa, durante o qual me pude debruçar sobre as janelas do passado, tive como poucos o privilégio de conhecer documentos inéditos acerca do Soito e da sua Misericórdia que me deram um prazer acrescido e uma sensação de orgulho pelo passado grande que o Soito tem vindo a viver há séculos incontáveis.
Escrever o passado de um povo não é exactamente o mesmo que escrever uns quaisquer artigos de opinião sobre um determinado tema onde o autor pode dar largas à sua imaginação e demonstrar o seu poder de criatividade literária; escrever acerca da história é relatar os factos que se viveram ou que por qualquer outro modo se teve conhecimento e contá-los aos leitores sem qualquer tipo de adulteração, logo uma responsabilidade pesada a que não me furto
Sei que quem escreve sobre o passado sem o viver, está sempre sujeito ou condicionado aos depoimentos alheios e apenas a partir destes pode construir uma história que se pretende seja fiel transmissora do acontecido, também sei, que ao invadir pela primeira vez esta área, não posso de maneira nenhuma fantasiar ou inserir lendas que possam adulterar ou desvirtuar um trabalho que se quer realista e responsável.
Assim e face à minha própria incapacidade de investigação, haverá porventura neste trabalho, lacunas por preencher e interrogações a que não poderei dar resposta, fiz o melhor que pude, num esforço e desejo de transmitir o mais do que esteve ao meu alcance, e mais não fiz porque mais saber não tinha, sempre convencido de que se as coisas têm o valor que têm conforme de onde vêm, este trabalho será pobre como pobre o saber do autor.
Não pretendo derrubar ideias ou conceitos tidos como credíveis, escrevendo a esmo, sem elementos documentados, nem tão pouco escrever a “história” do Soito por me julgar incapaz de uma tal tarefa, pretendo apenas dar o meu contributo e tão-somente relatar factos e situações, as possíveis, que ocorreram e dar uma visão aproximada, não só do passado mais recente ou remoto, mas também do tempo actual, e transmitir o que pessoalmente aceito como verdadeiro.




A verdade é que não se pode escrever sobre factos do passado sem acesso às fontes donde eles emanam e muito menos quando algumas dessas fontes dão o silêncio como resposta ao ser-lhe pedida informação que pode ser relevante, interessante e até essencial para o trabalho em questão.
Todos sabemos que a memória dos povos é curta, por isso se as memórias não forem impressas, correm o risco de se tornarem lendas, que, adulteradas a cada geração que passa, deixam de merecer qualquer crédito e apagam para sempre a verdade que se viveu.
A história é feita pelo povo que a vive, mas é aquele que a escreve, bem ou mal, o responsável pela sua transmissão ao futuro.
Devo ainda dizer que a história nunca estará completa enquanto houver alguém capaz de ir mais além na busca de um passado que por vezes teima em se manter ignorado, ou que, apesar de existente, permanece na obscuridade por desconhecimento ou desinteresse dos historiadores.
A história escreve-se e reinscreve-se a cada dia que passa
Os livros de história são, na sua esmagadora maioria, demasiado sintéticos e generalistas, dando relevância apenas àquilo que já tem alguma e omitindo muitas verdades ignotas que o povo viveu e escreveu com o seu sangue, assim, os povos, só sabem de si e do seu passado o que se escreve ou transmite, corresponda isso ou não à verdade.
Apesar de o Soito ter, durante a sua existência, filhos altamente colocados na vida académica, política e social, poucos houve que se dessem ao trabalho de investigar e desmistificar certos erros tidos como credíveis.
O Soito, como povo no seu todo, merece mais dos seus filhos do que aquilo que lhe têm dado e, não podemos argumentar sob pretexto algum, a falta de apoio que é notória por parte de muitos desses filhos, para nos abstermos de trabalhar em prol desta terra que é nossa, sim é nossa, porque o facto de eu aqui não ter nascido, em nada diminui o meu direito de ser Soitense e de amar esta terra, pese embora a opinião negativa de muitos que se dizem Soitenses mas não agem como tal, pois a cidadania não se adquire por simples nascimento involuntário que confira apenas direitos, ela acarreta também deveres a que nenhum cidadão se deve esquivar.
A maioria dos dados que a este livro dão vida, repousa algures dispersa por centenas de livros e de outras fontes, já inertes no eterno túmulo onde jazem, que me contaram muitas histórias do passado, seu ou alheio.
Como só através de datas, somos capazes de nos situar no tempo, tentei dentro do possível, datar os acontecimentos, já que história sem cronologia é história incompleta.
Dedico este trabalho a todos os Soitenses, de hoje e de todos os tempos bem como aos vindouros, para que saibam não só preservar a sua história, mas também promover o seu enriquecimento e engrandecimento.