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domingo, 18 de março de 2012

O Soito e a 3ª.Invasão Francesa

O Soito e a terceira Invasão Francesa




A história evoca e elogia os feitos de poucos, esquecendo o sacrifício de tantos.



Nenhum historiador, que se tenha conhecimento, alguma vez se deu ao trabalho de saber e dar a saber o que fizeram as tropas invasoras nos povos por onde passaram.

Não foi só a tomada de Almeida, a guerra do Buçaco, o combate do Gravato, ou outros acontecimentos referenciados nos livros, quem fez a história, muitos outros povos situados no caminho escolhido pelas tropas de Napoleão, fizeram história e sofreram a crueldade dos soldados invasores, no entanto o seu sacrifício permanece ignorado, ainda que vivo e presente em alguns arquivos empoeirados.

No nosso concelho, o facto mais relevante, para aqueles que escreveram a história, foi o combate do Gravato ocorrido no dia 3 de Abril de 1811, mas o que se passou não se resume apenas a este e aos outros episódios.

Os Franceses, após tomarem Almeida no dia 28 de Agosto de 1810, estavam no Soito no dia 30 vindos pela estrada dita militar, “uma das duas que ligava Alfaiates ao Sabugal”, e estiveram acampados no Forte, obrigando os habitantes, desarmados, a permanecer isolados em suas casas, que saqueavam para matar a fome ou roubar tudo o que podiam.

O período em que estes actos tiveram lugar (30 de Agosto de 1810 até 8 de Abril de 1811) foi um dos mais dramáticos da história do Soito e hoje, não somos sequer capazes de avaliar o sofrimento e a humilhação a que os seus habitantes foram sujeitos.

Esse dia 30 de Agosto, já lá vão mais de dois séculos, terá ficado marcado na memória do povo durante bastante tempo, e, embora hoje já ninguém tenha a mínima ideia do que aconteceu, a verdade é que os Franceses deixaram aqui uma nefasta lembrança já que os sentimentos de medo eram tais, que o povo não se atreveu sequer a enterrar os mortos que eles provocaram entre os cidadãos, inocentes e desprevenidos, que se encontravam a trabalhar no campo, pois como diz o Padre Alexandre Vaz, pároco do Soito, “ as pessoas tinham medo pois o povo estava cheio de inimigos”.

Nesse fatídico dia, foram mortos seis habitantes entre os 18 e os 40 anos, todos a trabalhar no campo, pois nenhum era soldado.

Alem de um casal: Domingos Gonçalves Luís e sua mulher Maria Martins de 30 anos, “mortos pelo mesmo tiro”, foram também mortos Manuel Nunes de 40 anos, Miguel, solteiro de 18, filho de Manuel Vaz e Maria Ramos, Domingos de 18 filho de Domingos Fernandes e Luísa Gonçalves e ainda Domingos Lourenço casado com Maria Robalo, este mais tarde encontrado morto e registado o óbito no dia 31 de Outubro.

Estes seis corpos não tiveram direito a sepultura em local apropriado, pois devido à impossibilidade de movimentação das pessoas que eram obrigadas a obedecer aos invasores, foram enterrados no próprio local da morte ou simplesmente abandonados às feras então existentes, como foi o caso de Domingos Lourenço do qual foram encontrados apenas “restos”

Foram ainda mortos pelos soldados Franceses, de susto, conforme registo paroquial, em 25 e 26 de Novembro; Manuel de Oliveira de 65 anos, viúvo de Ana Robalo e Fabiana Gonçalves de 50 anos.

Mas as vitimas continuaram, e no dia 30 de Janeiro de 1811 foi morto António Garcia de 46 anos, viúvo de Maria Nunes.

No dia 26 de Março tiveram igual sorte Francisco Carvalho, de 60 anos, casado com Maria Martins.

Domingos Martins, de 45, viúvo de Maria Jorge.
Ana Barrocas, de 40 anos, viúva de António Saraiva e José da Luísa, de 36, que foi enforcado.

No dia 4 de Abril, portanto logo a seguir ao célebre combate do Gravato, foi morto Domingos Jorge, viúvo de Ana Gaiona e no dia 5 Manuel Carvalho, de 40 anos, casado com Luísa Esteves,

Manuel Robalo de 45 anos, casado com Antónia Garcia e João Rodrigues também de 45 anos, viúvo de Maria Nunes.

No dia 8 de Abril mataram ainda José Lourenço, casado com Luísa Jorge, o que eleva para 17 o número de vítimas oficialmente registadas. Estas mortes significam que parte dos soldados de Napoleão, talvez dispersos do grosso da coluna, se aproveitavam da fraqueza do povo e exerciam sobre ele todo o tipo de violência sem controlo.

Alguns habitantes fugiram para povos vizinhos, nomeadamente para Vale de Espinho onde três vieram a morrer nesse mesmo ano de 1811 sendo sepultados na Matriz daquela freguesia.

No ano de 1810 foram registados 93 óbitos, porém, 75 ocorreram após o dia 30 de Agosto o que não deixa de ser elucidativo quanto à eventual causa.

No ano de 1811 registaram-se 100, 76 dos quais tiveram lugar até ao dia 30 de Julho

Estes números contrastam de modo bastante acentuado com os havidos nos anos mais próximos 1809 (29) e 1812 (29)

Certamente que não foi por acaso, que durante o tempo que medeia entre 30 de Agosto de 1810 e 30 de Julho de 1811 ocorreram nesta freguesia 151 óbitos, (75 de 30 de Agosto até 31 de Dez de 1810 e 76 desde 1 de Janeiro a 30 de Julho de 1811) um dos números mais altos da história do Soito.

A maioria dos corpos foram sepultados na Matriz, cerca de meia centena na Capela da Misericórdia, 19 na Capela do Espírito Santo e um na capela de São Modesto (a antiga, onde hoje se situa o Chafariz da Praça)

Sabemos que em 1858 se verificaram 156 óbitos, a maioria devido a uma epidemia de “bexigas”, mas no espaço de tempo em questão, sabemos que para além das “bexigas” o povo foi atingido por outras duas doenças que o pároco registou como “maligna”e malária e que surgiram após a passagem do exército Francês, o que pode ter sido, directa ou indirectamente, a causa provável de um tão elevado número de mortes.

Também não é de excluir a hipótese de, praticamente em fim de ceifas, ter sido causado, pelos Franceses algum tipo de destruição ou até confiscação das colheitas, o que se veio a reflectir na escassez dos produtos alimentares recolhidos, provocando carências de toda a ordem e consequentemente a fome.

Alguns autores, como por exemplo Nicole Gotteri no seu livro Napoleão e Portugal, impresso em 2006, afirmam que “a maioria das obras de arte sacra em ouro ou prata existentes nas igrejas por onde passou o invasor foram pilhadas e o espólio derretido para cunhar moeda”, assim se perdendo uma boa parte da história desses povos no qual o Soito se deve incluir.

Mas não foi só o Soito que sofreu as consequências da “invasão dos inimigos”, Alfaiates, embora com registos incompletos, também conta pelo menos 11 mortos segundo registos do padre José Fernandes Sanches que também refere dezenas de mortos para cuja causa aponta a “peste.”

Aldeia da Ponte certamente não escaparia à triste experiência, porém, por inexistência documental entre 1703 e 1851 nunca saberemos a verdade o que é igualmente válido para o Sabugal (Santa Maria do Castelo e São João) de cujas freguesias também não existe ou não encontrei a documentação referente ao período em questão.

Ti Carlos

Batizados no Soito entre 1675 e 1704





Baptizados realizados no Soito entre 1675 e 1704 e que apenas podem pecar por defeito, já que faltam algumas páginas.


Em 30 anos realizaram-se 770 baptizados o que corresponde a cerca de 26 por ano, nascimentos que
os 36 moradores que o Padre Carvalho atribui ao Soito eram incapazes de gerar, logo, há erro histórico nos dados que foram sucessivamente copiados pelos historiadores que se seguiram.

Todos os lugares do concelho, à excepção de Quadrazais, a que o Padre Carvalho em principios do século XVIII atribui população superior à do Soito, tiveram neste período um número bastante inferior de baptizados o que é bastante esclarecedor.
Ticarlos

Cruzeiro da Teixugueiras

O Cruzeiro das “Teixugueiras”


Situa-se junto à estrada do Ozendo a cerca de 300 metros da Rotunda de São Cristóvão.

Diz a tradição oral que este cruzeiro faz lembrar a morte de um homem que roubava mel das colmeias existentes ao redor do local onde se situa.

Segundo testemunhos, que podem já ter sido adulterados, logo, diferentes da realidade de então, constava que o mel desaparecia das colmeias e que os proprietários se postaram de guarda, numa noite, esperando que o suposto ladrão aparecesse. Não se sabe se o homem aqui assassinado era o verdadeiro ladrão, se era o proprietário, ou um simples viajante que passava no local errado.

O registo de óbito nº 26 do dia 1 de Julho de 1903 diz que “foi encontrado morto, pelas quatro horas da manhã, presumindo-se que assassinado, no sítio das “Teixugueiras” um individuo do sexo masculino por nome José Augusto Pereira, solteiro, ferrador, de 28 anos de idade. filho de José Pereira Ferrador e de Joaquina Martins Antão, proprietária, naturais da freguesia do Souto.”

Foi sepultado no cemitério público do Sabugal!

O vigário Manuel Nunes Garcia.

Tendo em conta a profissão, dele e do pai, ambos ferradores e a qualidade da mãe: proprietária, não é muito credível a história, no entanto a verdade nunca se saberá, apenas resta este cruzeiro a lembrar a intolerância e a barbárie de há pouco mais de um século atrás e que até aos nossos dias deveriam ter evoluído mais no sentido positivo e humanista numa sociedade que se diz civilizada mas que ainda tem um longo caminho a percorrer.

Ticarlos

CRISTALINA!!!!

A Cristalina


Esta fábrica foi uma das que mais contribuiu para o desenvolvimento do Soito e até do concelho, nas décadas de 60 a 90 do século XX.

Fundada por Manuel de Oliveira Russo em 26 de Setembro de 1946 só em 25 de Julho de 1957 e por exigências legais, recebe o alvará 46.981.

A gasosa, que foi o produto inicial, era então transportada numa carroça puxada por uma mula, só mais tarde apareceram os veículos motorizados.

Em meados de 1963 começou a laborar uma máquina automática de enchimento de garrafas com uma capacidade diária de 24.000 garrafas.

Em Março de 1964 foi pedido o averbamento do dito Alvará à firma Refrigerantes Cristalina o que foi autorizado em 2 de Junho segundo o oficio de 9 de Julho de 1964 por incorporação da quota do fundador na firma recém-criada, (a firma Refrigerantes Cristalina Lda.)

O projecto de ampliação do edifício principal destinado a laboratório, máquinas de lavar e enchimento foi entregue em 10 de Maio de 1967 obtendo parecer positivo em 23 de Outubro.

Em 10 de Dezembro desse ano ficam instaladas novas e modernas máquinas de lavar e enchimento que haviam sido compradas em Julho por mais de 2.000.000$00, foram benzidas pelo Sr. Bispo da Guarda D. Policarpo da Costa Vaz.

Em 30 de Março de 1968 entra na Direcção Geral dos Serviços Industriais o pedido de instalação de uma unidade de fabrico de sumos naturais que foi autorizado conforme publicação do Boletim daquela Direcção em 17 de Abril do mesmo ano.

Mais um projecto de ampliação das instalações deu entrada na DGSI em 7 de Março de 1969.

No dia 15 de Agosto de 1971 é celebrada uma Missa nas suas instalações e em 26 de Setembro organiza um almoço de confraternização para comemorar 25 anos e onde para além dos funcionários estiveram alguns convidados ilustres, entre eles o Sr. Governador Civil Dr. Mário Bento Martins Soares, o Sr. Presidente da Câmara do Sabugal, o Eng. Engrácia Carrilho, etc.

A nova linha de enchimento cujo projecto foi aprovado pela Direcção dos Serviços Industriais tinha uma capacidade de enchimento de 60.000.000 de garrafas ano.

O pedido para a fabricação de gelados foi feito pela Cristalina à Direcção Geral dos Serviços Industriais em 16 de Outubro de 1972, porém a fábrica viria a ser instalada na cidade da Guarda.

Para se fazer uma ideia do movimento desta fábrica basta dizer que em 1976 consumiu 154 toneladas de fuel, 143.000 litros de gasóleo e 365.000 KW de energia eléctrica.

Utilizou 404.000 quilos de açúcar, 156.298 litros de sumos naturais, 1.035 de óleos de essências, 59.100 de anidrido carbónico e 8.600 quilos de ácido cítrico entre outros produtos.

Em 1977, 1978 e 1979 dava emprego direto a 74 trabalhadores.

Em 1984, de Janeiro a Setembro vendeu 328.977 grades ou embalagens de produtos no valor de 126.597.474$00 e produzia então uma variedade de 64 tipos de artigos diferentes desde a tradicional gasosa caseira até à cidra passando pelas compotas, frutas em calda, pimentos, triple seco, ponche, anis, aguardentes etc.

Em finais de 1985 os sócios desta empresa venderam a maioria da participação que detinham a um investidor estranho, foi o princípio do fim apesar de os produtos por ela fabricados terem uma boa aceitação no mercado e serem considerados dos melhores do país.

Em 1988 o volume de vendas ultrapassou os 315.000.000$00

Em 1993 e com milhares de grades de sumos e refrigerantes em armazém no valor de milhares de contos, (que acabaram por se deteriorar) fechou as portas deixando dezenas de trabalhadores no desemprego.

Os trabalhadores desta Empresa receberam a carta de despedimento em Dezembro de 1993 o que seria confirmado por outra carta de 9 de Fevereiro de 1994.

Em 2004 tiveram inicio, nestas antigas instalações, obras de adaptação a um pólo empresarial que hoje, em atividade, representa, em valores relativos, menos de 1/20 do movimento da anterior Cristalina!
Ticarlos

sexta-feira, 16 de março de 2012

90 anos de G.N.R. no Soito

90 anos de G.N.R. no Soito


A Guarda Real de Policia, que deu lugar à extinção dos Quadrilheiros, foi criada por Decreto de 10 de Dezembro de 1801 e foi o Intendente Pina Manique quem mais se esforçou para que Lisboa tivesse uma polícia séria para defesa dos seus habitantes. Durou apenas 33 anos, já que em 3 de Julho de 1834 é substituída pela Guarda Municipal de Lisboa, tendo a do Porto sido criada no mês de Agosto do mesmo ano.

É neste mesmo ano, a 27 de Setembro, que são alistados na Guarda, 11 elementos do Soito: Luís Carrilho, Manuel Nunes Dias, Bernardo Garcia, Hilário Nunes, Manuel Pereira Ferrador, António Garcia, Alexandre Robalo, Manuel Carvalho (o moço), Joaquim Fernandes, Modesto Fernandes e Manuel Dias Antão.

Só em 24 de Dezembro de 1868 os dois corpos são unificados com um comando único no Quartel do Carmo em Lisboa.

Esta força passa a denominar-se Guarda Republicana por Decreto de 12 de Outubro de 1910, logo transformada em Guarda Nacional Republicana por Decreto de 3 de Maio de 1911 e que se mantém ainda hoje.

A GNR só chega à Guarda em 1914.

Em 9 de Novembro de 1912 é pedida a GNR para o Sabugal, propondo-se a Câmara a “satisfazer todos os encargos que advenham da permanência desta força no concelho” mas só em 28 de Agosto de 1914 “são postas à disposição do Comando Geral várias casas à escolha da Corporação para serem inspecionadas afim de ali ser instalada a referida força”. Em 1915 o Sabugal já tinha a GNR instalada.

Embora o posto da GNR do Soito só fosse criado em 1922, já antes aqui havia “guardas da Policia Civil”, conforme se lê nas contas da Câmara de 24 de Abril de 1907: “despesa paga a José Clemente Henriques no valor de 4.370 reis, importância de carvão e luzes para os guardas da Policia Civil destacados no Soito”.

A G.N.R. esteve instalada numa antiga escola, pertença da Junta de Freguesia e que veio a beneficiar de obras em 1923. Em 21 de Junho de 1936 é arrendado por 800$00 anuais (a cargo da Câmara) um edifício a João Batista Carrilho para servir de Posto da Guarda, local em que se manteve até 1985 e que deu nome à Rua: (Rua do Posto)

Sabemos que, por ata da sessão da Câmara de 21 de Fevereiro de 1942, esta Câmara (do Sabugal) pediu “a criação de uma força da GNR a cavalo para o Soito e Aldeia da Ponte propondo-se a custear as despesas e que se destinava a combater a candonga”. Desconhecemos se esta força alguma vez foi criada.

Em 10 de Março de 1980 a Junta de Freguesia informa a Câmara da cedência de um terreno para a construção do Quartel da Guarda, obra que foi adjudicada por 6.424.370$00 sob escritura de 2 de Julho de 1982 e mais 1.073.597$00 referente à instalação elétrica, não constante no projeto inicial e de acordo com ata de 5 de Abril de 1983. A obra é dada por concluída e aceite provisoriamente pela Câmara em 24 de Outubro de 1984.

Em 19 de Novembro de 1986 a Câmara aceita definitivamente a obra e a sua cedência à Corporação é aprovada em 26 de Novembro do mesmo ano.

São 90 anos consecutivos de história, o que contrasta com o que aconteceu a alguns postos de povos da região, que foram criados e extintos: Alfaiates, Vilar Maior, Pega, Nave de Haver e Quadrazais entre outros.

Ticarlos