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terça-feira, 11 de junho de 2013

Os Gabrieis e a revolta do povo.

Os Gabrieis, História e tradição (Editado)




Era uma das mais poderosas e influentes famílias do Soito no século XIX e princípios do século XX.

Gabriel Nunes, o patriarca, filho de Manuel Nunes e de Luísa Nunes, casou em 2 de Setembro de 1775 com Ana Lourenço, filha de Francisco Lourenço e de Isabel Lourença.

De entre os seus vários filhos, destacamos José Nunes do Gabriel que viria a casar com Joaquina Garcia filha de Joam Garcia e Maria José no dia 28 de Fevereiro de 1813, tendo morrido ambos no mesmo dia (10 de Agosto de 1834.)



Deste casal nasceu outro José Nunes do Gabriel que casou com Maria Garcia.



Era filho deste casal, Manuel Nunes Garcia que foi pároco do Soito desde 1876 até 1905, ano em que morre no dia 6 de Agosto, aos 59 anos, e um outro filho também chamado José Nunes do Gabriel (responsável pelo Posto hípico concelhio sediado no Soito) que casou no dia 28 de Junho de 1863 com Catharina Carrilho, fica viúvo no dia 28 de Agosto de 1908, e, aos 68 anos, casa com Maria da Glória Nunes no dia 5 de Maio de 1909, tendo morrido no dia 10 de Março de 1931 aos 92 anos. (Teve a sua última filha, Maria no dia 28 de Dezembro de 1917 aos 77 anos.

Deste casal nasce, entre outros, Manuel Nunes Garcia, (que foi buscar o Garcia à avó paterna) Bacharel em Direito, que viria a casar em Alfaiates com Clara Laura Freire Falcão em 1 de Abril de 1890 (registo numero 4, feito pelo pároco Francisco António Pereira.)

Foi Administrador do concelho em 1898 e 1899 e de novo em 1905-1906.

Foi notário no Sabugal entre 17 de Janeiro de 1900 até 18 de Março de 1916, foi ainda Presidente da Câmara do Sabugal entre 1892 e 1895 e de novo em 1897.



É de presumir, segundo testemunhos verbais de pessoas ouvidas e que hoje teriam mais de 110 anos, que a revolta popular, havida no Soito contra os Gabrieis tenha ocorrido em 1905/1906, altura em que morre o padre Manuel, sendo seu sobrinho Administrador do Concelho.

O povo estava cansado de ter um Padre da terra, (30 anos) que segundo testemunhos, não seria propriamente um exemplo de virtude, e perante a vontade da família dos Gabrieis querer colocar nesta paróquia um novo Padre de sua escolha, eventualmente o padre Júlio Garcia, irmão do Dr. Manuel Nunes Garcia e sobrinho do anterior Padre, os ânimos dos Soitenses exaltaram-se e recusaram essa pretensão que pela força lhe queriam impor.

Tendo o apoio do Administrador do concelho, (o dito familiar) julgavam os Gabrieis ter a força moral e legal para obrigar os paroquianos a ceder aos seus desejos ou interesses, mas depararam com a total oposição de um povo unido e decidido a lutar pelos seus princípios e direitos.

Não foi pacifico o desenvolvimento deste processo, que dava argumento para um filme, pois a força do poder político e económico dos Gabrieis que se julgavam com direito a submeter os aldeões à sua vontade, não contava com a força da unidade popular de um povo que se revoltou ainda mais após aqueles terem usado a força militar, que facilmente requisitaram face à sua riqueza e à posição social e politica de que desfrutavam.

Ao terem conhecimento da vinda dessas forças, que entenderam como repressivas, alguns populares subiram à torre e tocaram o sino a rebate para o povo se reunir e defender os seus direitos, foram então alvejados, porém as balas apenas atingiram os sinos, marcas que só desapareceram com a venda ou troca dos sinos pelos padres posteriores.

Da contenda resultou a morte de duas mulheres na escada do Ti Patrício, (uma casa então existente em frente à actual casa mortuária, que segundo os registos dos óbitos de 1906, eram: Luísa Nunes Dias, solteira, tecedeira, de 20 anos, filha de José Nunes Dias e de Maria Fernandes Russo e Quitéria João, de 70 anos, viúva de João Gomes, filha de Manuel João e de Ana Dias, morreram ambas numa casa da Rua do Pereiro ás nove e meia da manhã do dia 25 de Janeiro de 1906, “sem sacramentos”.

Contudo, cientes da sua força, os populares, não desanimaram e obrigaram a dita família a encetar a fuga para Alfaiates, onde tinha familiares; o atrás citado Dr. Manuel Nunes Garcia,

Os militares, ao darem-se conta, de que o objectivo da sua vinda não fora a manutenção da ordem mas a imposição da vontade por parte de uma minoria, colocaram-se ao lado do povo, não antes de que um deles, ao fugir e tenha enveredado por uma rua sem saída (a rua detrás do actual salão paroquial) ter sido bastante maltratado e sofrido as consequências da revolta do povo.

Alguns populares, talvez a maioria do povo, furiosos com a maneira como foram tratados, dirigiram-se à casa de habitação dos fugitivos e despejaram na via publica todos os seus bens, móveis e alimentares

A verdade é que o Padre não tomou posse da paróquia, (o lugar foi ocupado pelo Padre José da Silva Elvas, que já o vinha exercendo desde a morte do Padre Manuel Nunes Garcia) e o nome dos Gabrieis acabou por se extinguir da povoação, restando no entanto no cemitério um túmulo em nome de José Nunes do Gabriel e esposa Maria Garcia, para além de uma longa história familiar e uma numerosa descendência ainda viva, mas que, como é óbvio, nem conhece o nome dos seus ascendentes. (O apelido Gabriel durou apenas pouco mais de um século, mas o seu sangue continua a correr nas veias de muitos Soitenses, que nada têm a ver com o sucedido)

Para completar a informação devo dizer que aquando da terraplanagem dos terrenos para abertura da estrada Soito Alfaiates, em 16 de Setembro de 1956, os descendentes desta família impediram os trabalhos negando a passagem da estrada pelas suas quatro propriedades e obrigaram a Junta de Freguesia do Soito a negociar com o seu representante tendo sido acordado em 15 de Outubro no pagamento de 6.000$00 à dita família para que a estrada continuasse o que obrigou a Junta a contrair um empréstimo bancário para fazer face a este encargo.

Nenhum dos restantes proprietários onde a estrada foi aberta fez qualquer exigência, pelo menos não consta disso qualquer prova documental.

Ps. Uma das mulheres mortas pelos soldados requisitados pelo administrador de então: Dr. Manuel Nunes Garcia, Quitéria João, mulher de João Gomes era bisavó materna da família Frade; Isabel, Jaime, José, Manuel...

ticarlos@sapo.pt







3 comentários:

  1. Carlos, penso que os descendentes dos gabrieis não se importariam que fossem identificados.
    A guerra faz parte do passado. Na altura havia fartura de padres e estes lutavam para serem bem colocados. Agora... coitados, são tão poucos que já nos rimos destas guerras. A minha avó era Garcia. Será que era dessa família?

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    1. Amigo! Para responder tenho que saber quem é. Se pretender confidencialidade pode dizer-me para o Email ticarlos@sapo.pt Um abraço!!!! A minha esposa também tem ascendentes Garcia!!!

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    2. Joaquim António Rito Pereira: Toninho do Ti Manuel da Amália

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